Falta um ghost-writer competente para Lula. O dele copia os ghost-writers de John Kennedy. Não pergunte o que a o seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer pelo seu país, disse um dia o presidente americano. Lula papagaiou tudo, piorando: "Nós não podemos ficar dependendo do que alguém pode fazer por nós. Temos que descobrir o que podemos fazer por nós mesmos". Além das frases toscas, é mais uma exaltação do individualismo absoluto, do qual ele tem se colocado como exemplo. Citou a mãe que criou um monte de filhos e nenhum virou bandido. Faltou dizer: isso foi possível porque ela vivia na era Vargas.
SAPATOLÂNDIA - "Se eu só tenho um par de sapatos, tenho que valorizar esse par de sapatos", disse Lula. O cara pode estar desempregado, nu, com frio e fome, mas tem um par de sapatos. Então ele olha para os pés e diz: te amo, sapato, és o maior sapato do Brasil. E virando-se para todos os lados, poderá exclamar: mas que sapato! Pronto, valorizou o sapato. Outra asneira monumental é de que o Brasil não cultua seus heróis. Cultua, sim. O povo saiu às ruas para cultuar Leonel Brizola no funeral do qual Lula foi expulso aos berros de traidor, traidor. O problema verdadeiro é que os heróis foram erradicados da grade escolar pelos professores que se acham revolucionários e são apenas uns bananas. O que medra nas aulas de história é a desmoralização do Brasil. Costuma-se dizer no ensino básico e secundário que o Brasil não fez a Independência, que a República não teve nenhum tiro, que a revolução de 30 foi apenas um acerto das elites sem participação popular e assim por diante. O Brasil fez a guerra da independência de 1821 a dois de julho de 1823 e saiu vitorioso. Morreram milhares de heróis. Só numa das batalhas, tombaram 400 bravos. A implantação da República gerou uma guerra que durou quase quarenta anos, de 1893 a 1930. A revolução de 30 engajou cem mil voluntários civis, só no Rio Grande do Sul, fora os outros estados rebelados, como Minas e Paraíba. Getulio foi recebido em delírio pela população do Rio de Janeiro, em carro aberto. Meu amigo Gastão de Magalhães, que Deus o tenho em sua Glória, estava lá e me contou. Seu Gastão jamais foi partidário de Getúlio. Seu testemunho é isento. Ele estava na Cinelândia e Getúlio passou de uniforme militar, ovacionado pela multidão. Esse herói está enterrado em São Borja. Vai lá, Lula, e deposita uma coroa de flores no próximo dia 24 de agosto, data que lembra a tragédia do suicídio de um presidente (depois dizem que no Brasil não existem pessoas sérias). Vai lá e cultue esse herói brasileiro, Lula.
PATRIOTISMO - Para resgatar o patriotismo enterrado, é preciso fazer como acontecia na era Vargas, quando participávamos do hasteamento da bandeira nacional e cantávamos o hino à bandeira. É preciso parar de falar mal de grandes heróis nacionais. É preciso contar a história de Siqueira Campos, por exemplo, que dá nome ao parque do Trianon, na avenida Paulista. De como ele repartiu a bandeira em vários pedaços e distribuiu para cada um dos seus guerreiros, antes de enfrentarem, armados apenas de algumas pistolas e espingardas, as forças de terra, mar e ar da República Velha. É preciso difundir os novos estudos sobre Duque de Caxias, patrono do Exército brasileiro. É preciso deixar de roubar a merenda escolar e erradicar a atual gangsterização da política. É simples. É preciso abrir as comportas do conhecimento e da cultura para todas as gerações, ermas de tanta escuridão e falta de informação. Tenho acompanhado o orkut e alguns fóruns culturais existentes nele. É de chorar o amor que a meninada tem por Glauber Rocha, a admiração pelo que ele fez no cinema, na política e na TV. É incrível a sede de formação da juventude brasileira, totalmente tolhida, que não tem acesso a uma televisão de qualidade, um jornalismo mais isento e atuante, uma cultura mais acessível, manifestações livres de imposições e panelinhas. O patriotismo começa com a liberdade. E já que Lula improvisa no besteirol, é melhor contratar escritores patriotas, que possam criar frases para ele poder transmitir um pouco de grandeza à nação. É cansativa essa sucessão de abobrinhas. Puxa, mas que sapato!
RETORNO - Recebo via correio, enviado por essa pessoa sem igual, Claudio Levitan, um exemplar do nosso livro Outubro, o que fizemois juntos em tardes intermináveis e noites de conversas sem fim. Meus poemas abraçados com aquelas imagens poderosas, eternas, desenhadas no maior capricho e talento sem fim de Claudio, essa multi-pessoa, que soube guardar o exemplar intacto, novinho em folha, como se tivesse acabado de sair da gráfica. Recuperei assim esse livro, luz da minha vida e da nossa geração. E pelo correio, Rubens Montardo Junior me envia o número 2 da revista Fronteira. Comento os dois presentes amanhã.
Nenhum comentário:
Postar um comentário