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8 de julho de 2004

UMA DERROTA DA DITADURA

A importantíssima vitória da mobilização popular em Florianópolis contra o aumento extorsivo dos preços dos ônibus foi um golpe na ditadura civil, sistema que atualmente nos governa por meio do arrocho financeiro e da política anti-povo. Infelizmente, não foi uma vitória da democracia, pois um regime democrático não extorque o próprio povo. Numa democracia, a mobilização popular é para conseguir vitórias políticas e não liberdade, que está assegurada de fato. Só na ditadura se luta pela liberdade. No caso de Florianópolis, a liberdade de não ser tungado pelo poder instituído num direito básico que é o transporte. Não falo da Prefeitura em si, que é boa em muitos aspectos, mas do sistema (transportes privatizados incluídos). Por isso Florianópolis dá régua e compasso para a engenharia política popular que deve ser planejada de agora em diante. Especialmente quando querem impedir a promotoria pública de investigar os crimes e adotar uma Lei da Mordaça para a imprensa, o que consolidaria a censura na ditadura civil.

IMPRENSA ? Com honrosas exceções, como é o caso de alguns colunistas do Diário Catarinense, a imprensa se comportou muito mal no episódio, especialmente o noticiário de televisão e os editoriais impressos, que se opuseram frontalmente à legitimidade do movimento, que começou nas associações de moradores e ganhou o apoio decisivo dos estudantes. Depois que a justiça proibiu temporariamente o aumento, graças à liminar encaminhada por uma atuante OAB local, alguns comentaristas de TV estavam com a maior cara lambida do mundo, pois passaram dias xingando os tais grupos organizados e infiltrados que estariam proibindo a população de ir e vir. Houve má vontade e ataques contra a insurreição e a revolta, coisa típica de imprensa amordaçada, que sempre diz sim ao governo, qualquer governo. Como não se chegava a um acordo, o governo estadual chegou a propor uma diminuição do ICMs para resolver o impasse, o que é de um oportunismo sem fim, pois estamos em época eleitoral e a Prefeitura é sua adversária política. Além disso, os impostos deveriam, em sua maioria, ser abolidos, em favor de um imposto único, pagável, e não o atual estado de extorsão via taxas e tributos. Como fica a imprensa tendenciosa diante de uma vitória como esta? Eis uma das vantagens de se ter jornais realmente isentos, sem diatribes intituladas chega! basta! parem com isso! e não sei o que mais. Dentro das redações, deveria haver pressão em favor da democracia. Os jornalistas precisam se opor às diretrizes impostas pela ditadura via patronato ou chefia da redação. Até mesmo quando derrubaram o Cláudio Abramo na Folha em 1977 por ordem do Exército e impuseram o Boris Casoy (que era de confiança do regime) como diretor de redação, em plena ditadura civil/militar, todos os jornalistas ficaram de pé por um dia inteiro para protestar contra a medida. Mas Abramo está esquecido ? nem foi citado no centenário do Estadão, que ajudou a transformar em jornal importante - e Boris faz caras e bocas para achar tudo uma vergonha. É mesmo, mas por outros motivos.

REFLEXOS - O domínio dos bairros feitos pela corrupção policial e pelos traficantes, como mostrou o jornal da Band em Curitiba, e como há de sobra no Rio e em São Paulo, é um reflexo direto da ditadura civil. Os bandidos clonam o poder ditadorial por meio das armas, do assassinato, do arrombamento, do estupro e toda a sorte de violência, invadindo casas e obrigando os moradores a fugir. Sinal que não há liberdade porque não há Estado para defender o povo. O Estado está recostado em poltronas macias, dizendo abobrinhas, como faz Lula e Zé Dirceu, no que é imitado pelo Renato Machado, que se sente importante com suas dizidas extravagantes no seu noticiário, o Bom Dia, Imbecil. Numa democracia, a luta não é pela segurança básica, é pela ampliação da segurança. O movimento estudantil deve aprender com o que conseguiu aqui e não repetir 68, quando se sentiu poderoso depois da passeata dos cem mil e deitou tudo a perder com a arrogância política. A mobilização só dá certo se estiver sintonizada de fato com as necessidades da população. Não vão agora os estudantes se acharem reis da cocada preta e fazer como no tempo dos caras pintadas, que serviu para inventar carreiras políticas como o do tal Lindenbergh.

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