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1 de maio de 2004

UMA FESTA PAGÃ

O primeiro de maio vem da civilização celta (para quem, como eu, nada entende de nada, tudo vem dos celtas) e marcava o início da primavera. Era uma data de celebração e de pedidos aos deuses. Foi numa dessas comemorações que houve um massacre da polícia contra manifestantes, transformando o primeiro de maio em dia dos trabalhadores. Com a volta da festança e o fim das reivindicações - que conincide com o fim da era Vargas - tudo volta ao leito normal, ao som dos pseudo-sertanejos (urbanóides especialistas em berrar). Comemora-se não se sabe o quê, possivelmente o retrocesso ao período anterior à civilização dos direitos trabalhistas.

REPÚBLICA VELHA - Com a investidura, na mídia, de Aécio Neves, para ocupar o cargo de presidente a partir de 2006 (o que já foi anunciado publicamente pelo porta-voz da direita, Antonio Carlos Magalhães) voltamos ao tempo da república café-com-leite, em que paulistas e mineiros revezavam-se no poder, com algumas concessões aos nordestinos - numa espécie de homenagem ao fundador do regime, Marechal Deodoro, que era de Alagoas. O café-com-leite coincide com o fim da carteira assinada, o desemprego e a entrega da soberania. Tudo isso travestido de presidentes com pose de estadistas de estádio (Lula ontem num ágape com Ratinho no SBT, olhando embevecido uns desafinados gritando provocava choro e ranger de dentes). Ninguém pergunta o valor da nota preta gasto em propaganda por Aécio Neves, que tem como garotos propaganda gente cara como Ziraldo e Pelé. Enquanto isso, define-se o salário minimo em Washington. Quem deu o serviço do FMI como saqueador de nações foi Greg Palast, no seu clássico A melhor democracia que o dinheiro pode comprar, que está vendendo bem e só foi percebido pela Carta Capital e alguns colunistas. Há um silêncio de ouro envolvendo tudo isso. Neste primeiro de maio, também lembro a explicação da palavra greve, dada por Victor Hugo no livro Notre-Dame de Paris: greve significa praia e em francês havia uma Praça da Praia na margem do rio Sena, onde os trabalhadores desempregados se reuniam ou quando queriam pressionar o patronato

HOMENAGEM - Sou homenageado pelo poeta uruguaiaenense Silvio Genro com o seguinte poema:

" Mapas
Silvio Genro
Conheço teus becos,
cada rua tua,
tal qual as linhas da minha mão...
Sei de cor
os mapas dos teus mistérios
e o endereço do teu coração.
Sei do teu romance com as águas doces
desse velho rio
de mansas emoções...
Das vilas e vielas que tecem as teias
onde nos enleias
em tuas paixões!
Conheço teu rosto de cidade humana
e a ternura urbana
dos mapas da vida...
Conheço tua alma minha amiga antiga,
aldeia querida,
amada Uruguaiana!
Sou confidente dos teus segredos,
temos mesmos medos e aflições...
Sei onde escondes
teus poucos pecados
e os mapas de tuas tantas tentações.
Conheço o endereço
de tua poesia que me denuncia
todo o teu encanto...
Sei onde mora a tua alegria
e em que ombro choras
o teu triste pranto! "

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