Recebo mais uma mensagem do Editor Fronteira, me contando sobre os desdobramentos desta história contada pelo avesso. Vejam que delicadeza de pensamentos, e o que se arma logo depois do final da conversa, quando El Gran Tercerizador encontra-se com um grupo poderoso de especialistas e mais tarde vai acabar num bar oculto perto do Copan, onde faz um apelo para uma dupla de misteriosos repórteres policiais que tudo sabem e tudo acham uma grande bobagem.
CEIA PERDIDA – “Depois que saí correndo do prédio sinistro, sentindo ainda o hálito podre de Radoc, corri para a pizzaria de Trolé para me atualizar sobre os últimos acontecimentos. Lá encontrei, aos prantos, a namorada do garoto, que lamentava principalmente a perda da perspectiva de uma ceia, onde ela seria o prato principal.
- Estou sabendo de tudo, Anabela, e vim aqui para ajudar.
- Mas como poderia o senhor ajudar? disse a menina, enxugando as lágrimas. Recebi a última mensagem de Trolé toda truncada, pois parece que Pimple conseguiu neutralizar o meu amor, que agora está todo imobilizado por bits e bytes.
- Mas o que dizia a mensagem? perguntei.
- Não entendi quase nada. Só vi que no meio dos gritos de socorro ele implorou para eu pedir a intervenção dos maiores especialistas em informática do Brasil, o pessoal de um tal Gulib.
Minha mente tomou-se de assalto pela imagem dos garotos bambas do Gulib. Conheci-os de uma festa em Perdizes, onde falavam linguagem cifrada, que eu tentava interromper com piadas gastas, onde se destacam palavras ridículas como buffer e plus. Os garotos me olhavam com uma certa simpatia, já que não eram arrogantes, faziam parte do Grande Movimento Pró-Linux, adversário fatal dos donos da rede.
- Deixa comigo, Anabela, você me deu uma luz. Vou procurar esse pessoal.
- Mas o senhor conhece eles? Por favor, diga para tirar meu Trolé de lá. Eu não vivo sem ele. E juro que nunca mais penso em comprar um computador. Ele está trabalhando demais porque quer me presentear no Natal com um lap-top. Custa quatro mil reais, como ele vai conseguir? Foi por isso que se meteu nessa encrenca. Me sinto tão culpada!
E desatou novamente a chorar. Consolei-a o que pude e fui até um apartamento em Perdizes, onde encontrei, em alegre confraternização, três elementos poderosos do Gulib: Daniduc, Pablo e RBP.
- Tu, por aqui? pilherou Daniduc, devolvendo um velho cumprimento entre os dois.
- Preciso da ajuda de vocês, disse.
E contei tudo. Eles imediatamente se prontificaram a tomar providências e foi cada um para seu computador. Mas voltaram em pouco tempo dizendo:
- Esse Mr. Toth amarrou direitinho as coisas, disse Pablo. Precisamos intervir na fonte, senão Trolé está perdido.
- E o que vem a ser a fonte? perguntei, já exausto de tanta ansiedade.
Eles se entreolharam. Eu não sabia mesmo nada. Perdi toda credibilidade quando confundi servidor com provedor.
- Precisamos ir até o reduto de Mr. Speed e seus cruéis Provedores, disse RBP. Pois Mr. Toth não apenas aprisionou o entregador de pizzas e o teu frila Hélcio. Eles fizeram coisa pior.
Lembrei os olhos quase orientais de Mr. Toth. Era isso! O pesquisador de gafanhotos tinha também abocanhado Marcelo Min , com Fotogarrafa e tudo.
- Mr. Toth seqüestrou Min a pedido de Mr. Speed, disse RBP.
- Vamos até lá, argumentei.
Concordaram, depois de se espreguiçarem bastante. Essa vida de computador é mesmo um porre. Em vez de ir para a praia, depois de fazerem milhões de migrações e quê sei eu mais, eles ainda estavam se prontificando a entrar numa encrenca sem tamanho.
- É importante para nós, atalhou Daniduc. Acho que a ditadura dos Provedores está por demais. Com Mr. Speed, a gente se entende.
Fui com eles até um escritório gigantesco no centro, coberto de paredes de vidro, onde Mr. Speed, cognominado de O Arquiteto (depois que todos viram Matrix Reload) mandava e desmandava, mas sempre aconselhado pelos Provedores. Para surpresa geral, fomos recebidos na sala do chefe. O problema é que ele estava rodeado de Provedores, autômatos parecidos com Mr. Smith, de Matrix, que faziam mecanicamente o gesto de entregar cartões e dizer a frase “assine o nosso, assine o nosso”.
- Ora, ora, ora, disse Mr. Speed, todo vestido de branco, para imitar o Arquiteto. Os gênios do Gulib. O que vocês estão pretendendo com esta visita?
Eles começaram a dialogar o que jamais entenderei. Mas descobri que as coisas iam bem, pois os três se dirigiram à Sala das Máquinas e Ferramentas.
- O que aconteceu? perguntei.
- Shhh, advertiu Pablo. Enganamos eles. Dissemos que íamos ajudá-los num trabalho complicado aqui, mas no fundo queremos é desativar Pimple.
Suspirei de alívio e saí de lá, pois só poderia atrapalhar. Acabei chegando no centro da cidade, perto do edifício Copan. Lembrei que Gim Tomes e o fotógrafo Adelino Nazario costumavam ficar por perto, tomando cerveja em algum bar. Não custei muito a descobrir. Me receberam geladamente, pois sabiam que eu estava sempre querendo propor projetos, e eles estava eram a fim de uma grana da mega-sena.
- Senta aí, disse Gim, e continuou a conversa.
A certa altura, interrompi. Eles ficaram em silêncio. Depois começaram a rir baixinho.
- Deixa de delírio, fronteirista. Isso tudo é armação entre você e aquele coreano Min, disse Adelino.
- O Min brigou com Mr. Speed e travou o Fotogarrafa, disse Gim. Agora é com ele. E o Toth deve estar por aí, magrelando.
Não acreditaram em mim. O que fazer para convencê-los?"
RETORNO - Não me pergunte, sr. Editor. Sou apenas mídia. Só retransmito mensagens. Nada tenho a ver com isso. Virem-se. Fico então aguardando os desdobramentos dessa história terripilante de Natal. Onde tudo isso vai acabar?
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