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28 de fevereiro de 2023

PERGUNTAS

 Nei Duclós 


Onde estás, beldade absoluta?

Que se alimentou da minha palavra

Depois de me ensinar o amor na poesia?


Desculpe invadir, é só uma pergunta

Tanto tempo juntos guarda lembranças 

Não preciso de ti , pois estou a pampa

Namoro a memória, que jamais me abandona


Terminaste os estudos? Cumpres teu sonho?

Ou ainda te amarram em farpados arames?


Dê notícias, mande um telegrama

Dizendo estou bem, mas morro por dentro


Nei Duclós

RECEITA

 Nei Duclós 


A inteligência artificial fará  todo o serviço

Dormirá por nós se for preciso

Comprará os livros que ela mesmo produ:ir 


Fará amor por nós em tardes de domingo

E nos casará com quem inventar

Providenciando aliança  e cerimônia 


A nós caberá a resignação e o silêncio

Porque até a lua está nessa receita espúria 

Faremos serenata nas janelas do infinito

Com as canções do tempo

Nosso companheiro de infortúnio 


Nei Duclós

27 de fevereiro de 2023

BOLERO

 Nei Duclós 


Quando sentir minha falta não serei mais o mesmo

Amor não é bolero que permanece na mesa

Onde passamos as noites planejando a cama 


Depois da última dose o amor toma um táxi

Não fica implorando no final da orquestra

Muda de bar, troca a roda de samba

Desiste da balada e vai para longe


Foi o que fiz, mulher do sereno

Pesquiso nos livros bizarras histórias 

Pois deve haver um jeito de preencher tua ausência

Enquanto me procuras onde não mais me acho


Só deixo uma pista, nem sei se deveria

Um endereço de ilha no último oceano

Lá vivo só como um pobre mendigo

Distante da costa que não está mais no mapa

Dizendo para bandos de indiferentes gaivotas

Que apesar das noites de inútil ressaca

ainda te amo e aguardo tua volta


Nei Duclós

26 de fevereiro de 2023

FÁBULA

 Nei Duclós 


Pousaste perto de mim de asa quebrada.  Te tratei com óleos do Oriente. Voltaste a voar, mas prejudicada. A toda hora cais no meu colo, ardente.


Pergunto de onde vieste e dizes do continente. Mas de qual deserto, ciranda? Quem te abateu e de onde tanto fôlego até chegar à minha varanda?


Curada, voas em círculos sobre minha cabeça. Perdeste o norte, tua cabana. Agora sou eu o teto que toca o íntimo do teu amor que sonha.


Acordas num sobressalto com dor nas costas. Faço massagem, prudente. Adormeces de novo, só de manha.


Não sei o que faço com tantas penas. És filha de um anjo, minha verbena. Varro o que sobra de tuas rezas, quando sobes na nuvem para que eu te veja.


Precisas viajar com teu vôo avesso. Preparo tua mala, com alguns ungüentos. E um caderno de folhas brancas, só de poemas.


Custas a sair, porque és confusa. A toda hora escutas o relógio, o ritmo do teu seio. Está muito acelerado, me dizes. Preciso me acalmar, me dê um beijo.


Enfim alçaste vôo na tarde amena. És agora um ponto no horizonte. Fazes par com a Lua, que com sua presença em pleno dia te homenageia. Eu sabia, és feiticeira. 


Recebi tua carta, pomba correio. Estás na pátria, onde nasceste. Queres voltar, mas não te deixam. Pois és rainha de um vasto reino.


Respondo que posso te visitar um dia, quando a caravana dos beduínos passar por acaso. O difícil é cruzar o mar oceano com meu pequeno barco. 


Ontem enfim ganhei meu ultimato. Ou parto definitivamente para teu trono ou virás com teus exércitos. Mandaste até quebrar as asas de todos eles para que eu possa reconhecer-te.


Deixo meu sítio e minha montanha. Solto os peixes e entrego as chaves para os pássaros. Vou buscá-la, prometo, decisivo. Para isso derroto todos os abutres e os narcisos . 


Essa fábula inventei, quando estava solto. Hoje vivo com meu amor num lugar ermo. Ela tem a fronte de princesa. E uma asa que consertei com meu desejo.


Foi uma longa viagem, mas deu tudo certo. Venci todos os laços que a prendiam. Ela me trouxe nos braços, rindo. E caímos embolados num lençol sereno.


Nei Duclós

25 de fevereiro de 2023

RESPEITO

 Nei Duclós 


Quinhentas vezes falei que te respeito

Por isso te dei de presente este vestido 

Com barra abaixo do joelho

Sem nenhum enfeite mas elegante

Como acontece nas rodas de bom gosto


Porque sei o que é  do teu agrado

Esse corpo prudente sem se mostrar em excesso

E que podemos admirar imaginando só pelo movimento do teu andar


Desconfias das minhas intenções pois fico te falando

Sobre tua vocação de deusa que não se assume inteiramente

Mas sei que adoras meu   cerco de possível amante

Nunca deixas de ser mulher em qualquer momento


A vontade que tens de tirar toda a roupa num rompante

Me deixando no chão como um cachorro

Aí são outros quinhentos


Nei Duclós

23 de fevereiro de 2023

FÁBULA

 Nei Duclós 


Pousaste perto de mim de asa quebrada. Te tratei com óleos do Oriente. Voltaste a voar, mas prejudicada. A toda hora cais no meu colo, ardente.


Pergunto de onde vieste e dizes do continente. Mas de qual deserto, ciranda? Quem te abateu e de onde tanto fôlego até chegar à minha varanda?


Curada, voas em círculos sobre minha cabeça. Perdeste o norte, tua cabana. Agora sou eu o teto que toca o íntimo do teu amor que sonha.


Acordas num sobressalto com dor nas costas. Faço massagem, prudente. Adormeces de novo, só de manha.


Não sei o que faço com tantas penas. És filha de um anjo, minha verbena. Varro o que sobra de tuas rezas, quando sobes na nuvem para que eu te veja.


Precisas viajar com teu vôo avesso. Preparo tua mala, com alguns ungüentos. E um caderno de folhas brancas, só de poemas.


Custas a sair, porque és confusa. A toda hora escutas o relógio, o ritmo do teu seio. Está muito acelerado, me dizes. Preciso me acalmar, me dê um beijo.


Enfim alçaste vôo na tarde amena. És agora um ponto no horizonte. Fazes par com a Lua, que com sua presença em pleno dia te homenageia. Eu sabia, és feiticeira. 


Recebi tua carta, pomba correio. Estás na pátria, onde nasceste. Queres voltar, mas não te deixam. Pois és rainha de um vasto reino.


Respondo que posso te visitar um dia, quando a caravana dos beduínos passar por acaso. O difícil é cruzar o mar oceano com meu pequeno barco. 


Ontem enfim ganhei meu ultimato. Ou parto definitivamente para teu trono ou virás com teus exércitos. Mandaste até quebrar as asas de todos eles para que eu possa reconhecer-te.


Deixo meu sítio e minha montanha. Solto os peixes e entrego as chaves para os pássaros. Vou buscá-la, prometo, decisivo. Para isso derroto todos os abutres e os narcisos . 


Essa fábula inventei, quando estava solto. Hoje vivo com meu amor num lugar ermo. Ela tem a fronte de princesa. E uma asa que consertei com meu desejo.


Foi uma longa viagem, mas deu tudo certo. Venci todos os laços que a prendiam. Ela me trouxe nos braços, rindo. E caímos embolados num lençol sereno.


Nei Duclós

FLOR

 Nei Duclós 


Flor é sempre desejo

Branca ou de outra cor

Revela o que nós queremos

Por prazer,  amizade, amor

Talvez por uma lembrança

De alguém que se ausentou

E envia um ramalhete 

Que pousa no coração 


Somos melhores na linguagem da flor 

Feminina e universal por ser a origem

De algo humano maior


Flor é mulher

Para quem quer o melhor, alvo, alvoroço

Sílaba de uma declaração explícita:

me deseje o bem, no corpo a corpo


Nei Duclós

22 de fevereiro de 2023

AINDA MOÇO

 Nei Duclós 


Não me importo mais em enxergar

pouco. Ou misturar os sons

que já nem ouço. Ou ser chamado

de sonso. E não ter paciência

para o jogo que o dia obriga

na disputa do osso


No fundo é tudo esboço

de uma vida futura, pelo avesso

quando o mundo exaure enfim

seus hábitos e torna-se o que sempre foi

absurdo.


Por isso não se despeça quando eu estiver

morto. Não estarei no aeroporto

para te tratar de hóspede. Nem no funeral,

apenas o corpo. A alma também partirá

para um recomeço num lugar onde a memória

não possui passaporte


Estou pronto, aproveite que ainda sou

moço. E tenho esse dom à mostra

que é a palavra sem rebuços, arte

que aprimoro para dizer o que sinto


Nei Duclós

21 de fevereiro de 2023

AVENTURAS

 Nei Duclós 


Vivo uma vida de aventuras

Viajo nas nuvens

Sou náufrago em remotas ilhas

Refugio-me em sitios abandonados

Depois de ver um crime

Ando pelo deserto até chegar ao cemitério de aviões 

E lá escolho uma sucata que levanta voo até Adis Adeba

Ou Ur, na Caldéia


Pelo fio estendido sobre a cidade escapo no equilíbrio de um incêndio

A multidão torce por mim

Desço a montanha de neve vítima de um acidente

E chego até a trilha

Onde me esperam aldeões com curativos


Meu corpo ferido está exausto

Ninguém me reconhece quando volto

Acabo meus dias num subúrbio


No dia seguinte tudo recomeça

Nado até a ilha


Nei Duclós

BIG BANG

 Nei Duclós 


Nada fica sem registro

Do intimo ao explícito

Para que a palavra sobreviva

À morte das estrelas


E o novo big bang

Nasça como um livro aberto


20 de fevereiro de 2023

EVENTO

Nei Duclós 


Se tudo for fingimento, não perderás comigo

tempo

É frágil o entendimento de que somos apenas

arte

e confundimos a representação com falsidade


Atuar é encarnar personas que circulam

no vento

feitas de carne e gesso, confraria virtual

de sombras


Toque no meu rosto, ele está atento

mas não me pertence, e sim à memória

Em algum lugar nos buscamos

como na brincadeira de esconde esconde


Se ficar claro que é só literatura

vais procurar outro evento

pois sei que o valor está na dor

de repartir-se, real, tormenta

tornado sobre o campo

a imaginação de um beijo

espírito, destino, ar sem fôlego 


Nei Duclós  


19 de fevereiro de 2023

VESTIDA

Nei Duclós 


Me imponho tarefas mas não  cumpro nenhuma

Prometo achar a fonte que levantou dúvidas

Deixo por fazer o livro já maduro


O dia me ocupa em obras dispersivas

Banho, roupa, leitura, comida

Além de dar trabalho para a familia


Tenho posses por dentro, por fora sou mendigo

Não me importa o pouco tempo que ainda resta

Componho melodias, olho para o teto

Fantasio o faroeste onde sou o mocinho


Aguardo na estação que recebe teu sorriso

Vestida de paixão, anel e brinco


Nei Duclós

16 de fevereiro de 2023

MÁGICO

 Nei Duclós 


Você está ocupada mas não baixo a guarda

Estoco a lança não só com a palavra

Rodeio o mel feito inseto instável


Não durmo enquanto não notas o assédio 

Que não é  crime já que não  te invado

Só dentro de mim mora o alvo:


O amor desperto por teu olhar mortal

O mesmo que me deste e agora negas

Arrependida talvez por eu ser mágico

Fico invisível e entorto garfos


Já me disseram para viver dessa arte

Predizer o futuro pelo teletransporte


Já visitei o tempo de anos vindos

Não estavas lá, sem o infeliz  consorte

Preferi voltar, agora sou mais caro

Pouso em teu perfume, voo de helicóptero 


Nei Duclós

ATENÇÃO

 Nei Duclós 


O amor que devotas ao veterano

Seria pura atenção e não amor mesmo

Pois sabes que ele pode de uma hora para outra

Embarcar para sempre na barca de Caronte


Assim mesmo vejo como amor verdadeiro

Pois o cara é pobre e vive de favores

Nada tens a ganhar, privilégios, dinheiro

A não ser o que ele tem de graça, sem esforço 


Talvez sua pegada de larga experiência 

Sua maneira minuciosa de tocar teu cabelo

O beijo sem compromisso com sabor de homem

O riso solto, a companhia doce


Perdes tempo com esse velho, dizem os boquirrotos

E concordas, para não dar bandeira

Soubessem dos motivos de cometer a loucura

Invejariam, pois o amor é raro nessa circunstância


Mesmo entre alguém antigo, como eu, complicado

E uma estrela como tu, gloriosa efêmera 


Nei Duclós

15 de fevereiro de 2023

ANÔNIMA

 Nei Duclós 


Não digo teu nome por obra da segurança 

O amor é  anônimo e te constrange


Estrangeira migrante

sem passaporte 

Passa pelos guardas porque estás de passagem 

Não tens pretensão de fixar residência 

Qualquer coisa te mandas, cobrindo-se de panos


Alto lá! alguém grita, o que afinal escondes?

É o meu amor, dirás, presa em flagrante


Nei Duclós

NATUREZA

 Nei Duclós 


Saia branca um pouco acima do joelho

Que o vento levanta em porções amenas

Esbanjas a graça sem me dar conselhos

Nem se faz de rogada pois me escolheste


Entre tantas te destacas fazendo charme

Boca vermelha tremendo o queixo

Num sorriso pequeno para matar de vez


Sabes o que pega na devoção do sexo

Feito sem temor em terreno firme

Que o amor  cultiva em intimo segredo


Usas um camafeu daqueles antigos

A ilustrar a nudez sem expor os seios

Pois tua blusa sabe o limite do desejo

E deixe que eu imagine todo o resto 


E se me perguntam se tenho preferência

Por tipo de cabelo ou cor de pele

Estatura mediana ou alta ou baixa

Digo que desconheço as opções de gênero

Só sei que és mulher que me pegou de jeito


Nasci para sofrer essa doce presença 

Que esgrimes quando andas balançando o corpo

Síntese que transcende a tua natureza


Nei Duclós

12 de fevereiro de 2023

PRINCESA

 Nei Duclós 


Peĺo poder que tem sobre todas as coisas

O amor te outorga o título de princesa

Não pela linhagem de nobreza

Já que vieste do povo a quem pertences

Nem pela beleza de outro mundo

Que poderias ostentar como um privilégio

Ou pelas virtudes para servir de exemplo

Ou mesmo os pecados que estão por toda parte

Em teu olhar, os joelhos, os ombros nus que arrasam numa festa


Mas porque o amor tem esse dom supremo

De superar o imperio da aparência 

Não deixando que a mais bela  cometa o erro

De trocar o alvo verdadeiro 

Por um qualquer metido a besta


Porque és meu amor ninguém duvide

Que a coroa em tua cabeça é o extremo prêmio

Que um súdito como eu, poeta no cabresto

Carrega no coração, que Deus esteja


Nei Duclós

PROGRAMA

 Nei Duclós 


Você é paga para ser feliz

Sorrir é seu melhor trabalho

Fingir surpresa no flagrante

Usar roupa curta para que perguntem

Encostar-se no sofá fazendo pose

Com as pernas para o ar a sugerir escândalo 


Depois vem para mim, fora do alcance

A pedir comida e só tenho espanto

Como podes ser de todos enquanto minha amante

Por que me escondes, poeira de estrelas?


Essa relação não vinga porque tens vergonha

Medo de perder teu belo sustento

Se souberem que és mulher de um sujeito tosco

Com a idade errada e aspecto de meliante 


Fatalmente te jogariam longe

Pois teu segredo deve ser um charme

E não um pobre bicho que te espera à noite

Com uma refeição de lençol que arranha

E um bruto cobertor para me enrolar sem jeito

A me conversar que precisas do dinheiro

Mas que és minha, e morres se me mando


Nei Duclós

CÍRCULO

 Nei Duclós 


A vida é cega

Sabe mas não enxerga

Que está cercada

Pelo seu próprio fim


Ela se ocupa

e não  cede 

Enquanto envelhece


É quando o mundo perde

Seu poder de treva

E vê o que estava perto 

Num dia terminal

De luz intensa


A vida vai para o infinito 

Oculto durante a terra

Ninguém prevê 

O que já estava escrito


Nei Duclós

8 de fevereiro de 2023

ARRIMO

 Nei Duclós 


Perdi

Deus achou-me entre os escombros

Teus ombros eram o divino arrimo

Em missão de busca


Achei

Um motivo de voltar de novo

Mesmo que tenhas outro destino


Meus trapos vibram ao vento noturno

Fui recebido a bordo


Agradeço a chance

Mar mais amplo do que a longa vida


Nei Duclós

3 de fevereiro de 2023

DESABAFO

 Nei Duclós 


Não me importa  a carreira literária 

Participar de eventos, feiras, palestras

Já corri atrás e deu  em nada

Um autor está só, como casa no deserto


Achei que poderia somar  com meus pares

Mas estão ocupados em tardes de autógrafos 

Viagens ao exterior, prêmios, virtudes

Todos são do bem, apesar das vaidades


Também não quero exercitar vanguardas

Ou pagar pau para poesia clássica 

Tenho meu jeito de escrever atrapalhado


Tudo será esquecido no tempo onde tudo morre


Deveria me dedicar a algum hobby da terceira idade

Cultivo de flores,  insultos  ou conselhos, uma espécie de padre

Ensinar como funciona a suprema arte

Levar tapinha nas costas, ser paparicado


Mas rosnar é da minha bruta natureza

Negar as ilusões da notoriedade

Suportar a artrite, a dermatite, a erisipela

Esperar o fim do verão e xingar o inverno


Não vim à terra a passeio

Quero a lucidez e a devoção dos santos

E teu pobre coração, beldade sem cuidados

Que desce em meu amor, único legado


Nei Duclós

2 de fevereiro de 2023

VAZIO

 Nei Duclós 


Não suporto mais te querer

Sonhar contigo

Precisar de ti


Não aguento o amor sem sentido

Sozinho no amanhecer

Vazio de domingo 


Quem sabe você some de vista

E leve teu cheiro

Teu carinho


Eu me viro

Já sei como sofrer

Sem ser correspondido


Nei Duclós

1 de fevereiro de 2023

JOGADA

 Nei Duclós 


Você acende o que dorme em mim

Dispensa palavras e nem chega perto 

Só com o fogo da tua atenção 

Focada no que digo por necessidade 

Amarga solidão, corpo sem lastro

Pele curtida em mil desertos


Essa chama branda que nada apaga

É tua mão invisível de rainha e fada

Saia de praia, ombros à mostra

Tênis na poeira de campeonatos


É quando me olhas num átimo

Na jogada proposital da tua arte

Vá buscar! me gritas na arquibancada

Você  é  o árbitro, me avisa a felicidade


Nei Duclós

AREIA

 Nei Duclós 


O prazer não pode ser proibido

Entre eu, um cara antigo

e você bonita como obra de arte 


Ninguém conhece direito o caminho

Que o coração tece quando é distraído 

Idade, beleza, ideologias

Nada importa se acontece o carinho


Mais imaginamos do que o toque da pele

Depois da entrega no amanhecer acordamos 


Vês então que não foi um sonho

A noite de núpcias de intenso rebanho 

Fiquei meio derrubado e tu esplêndida 

O sol imita a luz da tua lua cheia


Vivemos assim no impossível romance

Tu estrela do mais alto pódio

Eu areia de praias distantes


Nei Duclós

CALMARIA

 Nei Duclós 


Por que não fui embora?

Para outro país, dado o fora

Poderia então um dia voltar

Mas fiquei, perdi  a hora


Agora não posso mais partir

O mundo fechou as portas

E cansei também de viajar na imaginação 

Meus continentes internos já foram todos descobertos

E uma calmaria, a alma

Prende sem âncora o movimento das velas 


O sol do Equador torra os mapas

Sou despejado na infância sem o apoio do passado


Está na mesa! alguém grita

Hoje tem peixe de rio com farofa


Nei Duclós