MIRANDA, UM POETA CLÁSSICO
Nei Duclós
Foi-se no dia 29 de julho, para sempre, o poeta Luiz de Miranda, talvez o último exemplar em nosso meio de um poeta clássico , dedicado integralmente ao seu ofício, com toda a carga de danação e sobrevivência. Mestre na vocação a qual se entregou, ele inseriu em sua obra diversas paixões - a poesia, o amor, a esperança, a amizade - transformando duas cidades, Uruguaiana onde nasceu e se criou, e Porto Alegre, que adotou como segunda natureza, em referências da arte poética. E fez dos contemporâneos matéria prima de inumeráveis poemas. Dedicou ao próximo um lugar ao sol de sua palavra, sem limitar-se a nada. Nele, o poema é o exagero, que cumpriu com o sacrifício da própria vida.
Morreu só como os heróis antigos, no front de um mundo hostil, com seus tesouros públicos como os prêmios, os livros publicados e a aspiração ao reconhecimento maior, o Nobel da Literatura, que se achava merecedor depois de longa jornada coração adentro.
Devo a Miranda a lição fundamental da poesia. Ele me mostrou o foco principal da nossa arte: a palavra. Eu tateava no escuro e ele me falou numa mesa de bar: poema é antes de tudo palavra.
Parece óbvio mas é tudo. Como diz Drummond, deixa de lado tua infância e "penetra surdamente no reino das palavras".
Conterrâneos longevos , fomos próximos em muitas fases da vida e neste século pouco nos falamos. Foi-se o poeta clássico, aquele que merece ser estudado em classe. É vasta a sua herança, é pobre o que temos a dizer diante das iluminações da sua lavra, agora tornada sagrada.
Nei Duclós
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