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13 de outubro de 2021

O ÂNGULO RETO

 O ÂNGULO RETO Um dia esqueceram de me buscar na saida do Jardim da Infância. Família grande, dedicada, mas acontece. Minha casa ficava a quatro quarteirões e meio da escola, uma enormidade para quem, aos 5 anos de idade, não ultrapassava o meio metro de altura. Hoje todo mundo me acha bonitinho nessa idade quando mostro as fotos, mas eu me sentia deslocado num ambiente estranho lotado de crianças, onde me escondia num canto para escapar das atividades. Quando todos foram embora no meio dia assustador e eu fiquei plantado em frente ao grande portão marrom de madeira prestes a fechar, imaginei que não seria difícil me deslocar até o almoço seguro e o quarto amigável. Eu já era homem feito e só faltava uma decisão. Tinha a meu favor a cidade onde nasci e me criei, toda ela plana com ruas e calçadas retas e espaçosas. Bastava vencer a meia quadra até a esquina e dobrá-la, tomando o rumo sem erro do destino. Ninguém dava a mínima para um pitoco com 15 centímetros de altura (o susto me apequenou) pois criança sozinha era comum no Brasil da época . Não havia perigo numa região central, pois a escola ficava em frente à frondosa Praça Barão do Rio Branco. Plano arquitetado, lá fui eu até a esquina e depois despacito para vencer o trajeto de meio quilômetro. Com meu guarda pó branco, top enorme caprichado no pescoço, venci a dobra do ângulo reto e caminhei com meus sapatinhos pretos singrando o calçamento de boa qualidade. Cuidei dos carros ao cruzar as três ruas transversais à retidão da Bento Martins, e finalmente cheguei em casa sem correr nem nada. Bati na porta para fazer uma surpresa. Foi um berreiro de espanto e susto: - O guri veio sozinho! Fui então celebrado pela minha coragem depois que os adultos se xingaram pelo esquecimento. Eu estava tranquilo, saboreando o momento. Falei que eu já era um homem feito. Nei Duclós

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