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19 de novembro de 2020

O ANJO

 Nei Duclós 


Escapa-me a vocação 

Com tanta força

Que as palavras ficam órfãs 

Da poesia

E o que era conforto se confina

No pânico do vazio

De uma escritura


O dom em fuga perde a fibra

E o que foi companhia hoje é rua

Ao relento teço  no cortiço 

O último som da epifania


Não sabia que tudo vem do anjo

Que sopra do acervo do divino

Achava que era eu o sonho humano

E não o que mora muito acima


Escalo novamente a montanha

Para poder vislumbrar a planície

Chego ao topo e o poema

Bate asas no retorno de uma esfinge



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