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10 de setembro de 2020

THE POST: QUANDO O JORNALISMO ATINGE O OSSO

 NEI DUCLÔS 


Tudo conspira contra a publicação do relatório McNamara sobre o Vietnã pelo jornal da capital, o Washington Post. Primeiro, o massacre da concorrência, pois o furo era do New York Times. Depois, a situação financeira delicada do jornal, que precisou abrir o capital sem abrir mão da propriedade familiar.  A viúva (Merryl Streep, monstra) não tinha credibilidade suficiente para convencer os investidores.


Havia ainda o medo da prisão,  pois publicar os papéis do Pentágono que foram proibidos de serem divulgados pela Justiça de Nixon depois da bomba revelada pelo NYT. É ainda outros empecilhos como o envolvimento tanto da dona do WP quanto seu diretor de redação (Tom  Hanks, perfeito como sempre) com os poderes máximos da República. Sem  falar nas notícias superficiais como casamento da filha do Presidente,  entre outras bijouterias. Havia má vontade da Casa Branca contra i jornal que o criticava mas ainda não tinha influência nacional.


O que faz o cineasta (Steve Spielberg, gênio) para que seu filme reporte a trajetória do jornalismo para atingir o osso da notícia, sua essência, sua razão de ser? Faz cinema

 Ou seja  concentra a ação no andar dos protagonistas. Hanks sai abruptamente das reuniões e anda apressado pela vasta redação em polvorosa. Merryl expressa a elegância e a fragilidade da sua posição de herdeira de um Império prestes a perder tudo com seus passos lentos mas decididos.  O jornalista (Bob Odenkirk, de Better call Saul, ótimo) que acessa a fonte, corre para um telefone público ou tenta driblar em meio as mesas o advogado que quer impedir a publicação. O foca quase é atropelado quando cruza a rua correndo para espionar o NYT.


Mais  cinema: o início do filme é Soldado Ryan e Apocalipse Now. A busca da informação é Todos os homens do Presidente. O clima e o desfeccho e puro filme clássico noir.


Há mais: o centro da trama e a coragem da mulher assediada que estava indecisa. Ela descobriu que deveria optar pelo jornalismo e não pelas amizades com os políticos. Para isso deveriaassumir a empresa herdada e seus riscos e respeitar a lei da liberdade de expressão,  ou seja, a opinião pública e as decisões da redação. O dono de um jornal só manda se a liberdade for soberana. Sua saída vitoriosa descendo as escadas da Suprema Corte, filmada em meio a multidão de mulheres, é uma cena tocante desta obra prima ( não por ser perfeita mas por tocar no ponto exato da democracia) a cargo de Steve, Merryl, Tom, Bob e todos os envolvidos. É  um privilégio sermos seus contemporâneos.


Nei Duclós

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