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4 de setembro de 2020

MATILDE

 Nei Duclós 


Matilde cruza o deserto do México 

Com toda sua equipe teatral, que dirigia com mão de ferro

E dois Josés

O marido dramaturgo e diretor

e meu avô ainda no berço 

Precisava chegar a Vera Cruz e lá pegar um navio rumo ao Peru


Sentia-se expulsa do pais

Devido a uma desavença com o governo

Naqueles tempos obscuros 

Migrar para longe era sua única saída 

Já que não  podia voltar a Cuba onde perdera o pai Gregorio, ator, de  uma doença tropical

Ou à  Espanha onde maus empresários a aguardavam


Mas foi assaltada e sequestrada por bandoleiros

Que levaram tudo

E resgatada a peso de ouro


Conseguiu chegar ao navio que no trajeto enfrentou um motim da marujada contra o capitão 

Grande atriz, convenceu os rebeldes a  baixar as armas


E foi assim que ela inaugurou no Peru sua saga nos países da América do Sul


Matilde é  minha bisavó 

Heroína de toda uma vida dedicada aos palcos

Foi rainha, mãe, esposa, empresária 

Mulher de veludo e aço

Coração que abraça a coragem


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