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21 de agosto de 2020

COURAÇA

Nei Duclós


 

Tem quem me ama e se afasta

Quem nunca vi e gosta à distância

Os que não me suportam

A maioria indiferente

 

Sou um cacto  no deserto

Orgulhoso da solidão como se fosse um prêmio

Com sua couraça de espinhos e carne amarga

Longe do oásis, providencio minha própria água

Que recolho em cântaros de barro

 

Recebo os peregrinos com piedade

Pois sei que sairão feridos

Pela decepção e o assombro

De existir alguém que de perto bate

Tendo a aparência de um milagre

A origem dessa situação é obscura

Pois sendo cacto nada enxergo

Mas desconfio que é  o meu coração

Que te dei em vão, beduína sem disfarce

Que eu não soube amar por ser confuso

 

Imaginei que poderias perdoar-me

Mas a chuva que não vem secou-me a alma

 


 

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