Nei Duclós
O livro O
Regresso (The Revenant, O Renascido), do advogado e político do comércio
internacional Michael Punke pode ser baseado em história real (que é uma ficção
como qualquer outra, como notaram os irmãos Cohen), mas na hora do Alejandro
Iñarruti filmar em 2015 (e hoje na Netflix),não teve outro jeito: se baseou em
Sangue sobre a neve (The Savages Inocentes, 1960), de Nicholas Ray, com Anthoný
Quinn. Como sobreviver à neve roubando sangue e carne dos animais, entre outras
peripécias?
O cineasta
mexicano sabe (ou pelo menos pode desconfiar) que tudo na Sétima Arte é sobre
si mesma. Pois um filme é a soma de soluções cinematográficas já criadas
(quando surge uma nova, é imitada até o osso, como e o caso da estátua da
Liberdade enterrada na areia na saga do Planeta dos Macacos).
O filme
poderia ser a incorporação de muitas soluções e assim mesmo se transformar numa
bela criação, pois como a música que se baseia em sete notas (e seus
desdobramentos), alguns instrumentos fornecem o material necessário para
inventar. É o caso do ataque de índios a cavalo nos imigrantes brancos
cercados, criação de John Ford e que se tornou cânone no cinema, para desespero
dos analistas indígenas americanos. Mas Iñarruti preferiu ou foi obrigado a não
arriscar. Tinha nas mãos o material de um profissional do marketing e do
comércio, não podia brincar em serviço. Então, dele índio a cavalo atacando
branco acampado..
O filme vira
uma sucessão de lugares comuns. A dura sobrevivência na água gelada que
misteriosamente jamais gera hipotermia, os nativos americanos bonzinhos contra
os malvados franceses, a perseguição ao vilão, primeiro no tiro e depois na
faca, numa longa sucessão de barbaridades, do qual o filme se serve à vontade.
E tem Leonardo de Caprio, que mesmo deixando crescer (talvez seja falsa) uma
barba quilométrica continua não tendo biotipo para os personagens que
interpreta. Vestir uma tonelada de pele de urso também não resolve .Ele se
arrasta, ele atira, ele foge, ele luta o tempo todo e o filme se perde numa
história movida a clichês.
Mas por ter
custado caro acaba sendo bem feito, com boa sequências de ação. E e sempre é
divertido torcer para o mocinho mesmo quem ele seja o protótipo de janota
almofadinha virando repasto de urso meio tarado.
Essa de se
esconder no cavalo morto eu tinha visto em outro filme, Qual? Não consigo
lembrar.
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