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10 de outubro de 2018

FATO É LINGUAGEM – O CASO OVNIS


Nei Duclós

INTRODUÇÃO - O fato existe como linguagem e importa pelo impacto que provoca na percepção coletiva. Isso o torna refém das versões. A solução é mapear a trajetória da linguagem para definir os contornos do fato sem entregá-lo para a dispersão e o desmentido. Portanto, nenhum fato que tenha sido rastreado pelas marcas que sua linguagem deixou no imaginário social perde sua veracidade. Ele é o que provoca no confronto entre seu movimento e a observação e vivência social. Ao curvar o espaço tempo do cenário coletivo ganha peso de realidade. Isolado é apenas um evento suspeito de não ter acontecido.Essa é uma Introdução ao estudo de fatos divididos entre a verossimilhança e a falsificação. Vamos pegar um exemplo:

OVNIS - É um assunto interessante por ser um fenômeno de massa exposto ao preconceito. Não importa se existem ou não, importa que esse evento pode ser dividido em tempo, lugar e protagonistas. O tempo são as fases em que o fato, a linguagem, provocou na percepção coletiva.

Vamos abordar no início do fenômeno, 1947 (a pré-história, a dos marcianos fica de fora aqui, não faz parte dos Ovnis, já que as naves e os seres vinham de Marte e não de qualquer lugar, com raras exceções). A primeira fase, nessa abordagem de tempo, é a surpresa, a descoberta. É a era Roswell, do provável acidente de naves no Novo México, com a polêmica captura de seres e os desmentidos militares.

Segue-se a intensificação do mistério, das interrogações e da ocultação das visualizações e abduções, que coincide não por acaso com a Guerra Fria. Dos anos 60 aos 80 é a época de Aquarius, a lenda dos seres que vinham para anunciar a paz e a concórdia e uma nova idade de ouro para a humanidade, o que gerou a inocência do filme ET ou a esperança dos Contatos Imediatos de III Grau, de Spielberg. É o tempo por excelência dos planetas de outras dimensões e dos gurus virtuais que falam por telepatia. Essa época foi substituída pelo fim de século, apocalíptico, em que os OVNIss eram ameaças de guerra e os aliens, monstruosos.

Chegamos enfim a este século, em que há vários vetores em destaque. Um deles é a abertura dos arquivos secretos, que coincide com a abertura dos papéis da segurança da CIA via Edward Snowden, mesmo que não haja ligação direta. A Nasa e outras agências oficiais admitem a existência dos OVNIs e os avistamentos se multiplicam graças aos celulares e suas câmaras fotográficas e de vídeo, oferecendo vasto espectro de casos por canais do You Tube.

Esses são os impactos de tempo. Nos de lugar, e seus respectivos protagonistas, temos os avistamentos primeiro das agência espaciais, ainda com escassas informações mas com registros importantes; a dos pilotos das forças armadas ou dos aviões comerciais, com testemunhos e perseguições e até mesmo acidentes e capturas de seres de outros mundos; depois temos os acontecimentos em terra. Primeiro no interior, onde a cultura inocente dos protagonistas entra em contato com a sofisticação dos extraterrenos. No interior sobram exemplos de viagens espaciais inspirados em literatura de ficção de segunda, com líquidos protetores para cruzar o espaço nas naves, cidades utópicas e perfeitas em constelações distantes, seres amigáveis etc. Nas cidades a barra é mais pesada. Os ETs se metamorfoseiam para conviver entre nós, coincidindo com uma literatura de ficção mais sofisiticada. E há os avistamentos no mar e na montanha, com naves mergulhando ou se estabelecendo em lugares remotos.

Temos então um fato suspeito – a existência de inteligências de outros planetas – e seus impactos sobre nós. O fato é linguagem que impacta o imaginário. Existem de fato? O que importa é que sim, existem nessa interação com o imaginário coletivo.

Nei Duclós

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