Nei Duclós
INTRODUÇÃO -
O fato existe como linguagem e importa pelo impacto que provoca na percepção
coletiva. Isso o torna refém das versões. A solução é mapear a trajetória da
linguagem para definir os contornos do fato sem entregá-lo para a dispersão e o
desmentido. Portanto, nenhum fato que tenha sido rastreado pelas marcas que sua
linguagem deixou no imaginário social perde sua veracidade. Ele é o que provoca
no confronto entre seu movimento e a observação e vivência social. Ao curvar o
espaço tempo do cenário coletivo ganha peso de realidade. Isolado é apenas um
evento suspeito de não ter acontecido.Essa é uma Introdução ao estudo de fatos
divididos entre a verossimilhança e a falsificação. Vamos pegar um exemplo:
OVNIS - É um
assunto interessante por ser um fenômeno de massa exposto ao preconceito. Não
importa se existem ou não, importa que esse evento pode ser dividido em tempo,
lugar e protagonistas. O tempo são as fases em que o fato, a linguagem,
provocou na percepção coletiva.
Vamos
abordar no início do fenômeno, 1947 (a pré-história, a dos marcianos fica de
fora aqui, não faz parte dos Ovnis, já que as naves e os seres vinham de Marte
e não de qualquer lugar, com raras exceções). A primeira fase, nessa abordagem
de tempo, é a surpresa, a descoberta. É a era Roswell, do provável acidente de
naves no Novo México, com a polêmica captura de seres e os desmentidos
militares.
Segue-se a
intensificação do mistério, das interrogações e da ocultação das visualizações
e abduções, que coincide não por acaso com a Guerra Fria. Dos anos 60 aos 80 é
a época de Aquarius, a lenda dos seres que vinham para anunciar a paz e a
concórdia e uma nova idade de ouro para a humanidade, o que gerou a inocência
do filme ET ou a esperança dos Contatos Imediatos de III Grau, de Spielberg. É
o tempo por excelência dos planetas de outras dimensões e dos gurus virtuais
que falam por telepatia. Essa época foi substituída pelo fim de século,
apocalíptico, em que os OVNIss eram ameaças de guerra e os aliens, monstruosos.
Chegamos
enfim a este século, em que há vários vetores em destaque. Um deles é a
abertura dos arquivos secretos, que coincide com a abertura dos papéis da
segurança da CIA via Edward Snowden, mesmo que não haja ligação direta. A Nasa
e outras agências oficiais admitem a existência dos OVNIs e os avistamentos se
multiplicam graças aos celulares e suas câmaras fotográficas e de vídeo,
oferecendo vasto espectro de casos por canais do You Tube.
Esses são os
impactos de tempo. Nos de lugar, e seus respectivos protagonistas, temos os
avistamentos primeiro das agência espaciais, ainda com escassas informações mas
com registros importantes; a dos pilotos das forças armadas ou dos aviões
comerciais, com testemunhos e perseguições e até mesmo acidentes e capturas de
seres de outros mundos; depois temos os acontecimentos em terra. Primeiro no
interior, onde a cultura inocente dos protagonistas entra em contato com a
sofisticação dos extraterrenos. No interior sobram exemplos de viagens
espaciais inspirados em literatura de ficção de segunda, com líquidos protetores
para cruzar o espaço nas naves, cidades utópicas e perfeitas em constelações
distantes, seres amigáveis etc. Nas cidades a barra é mais pesada. Os ETs se
metamorfoseiam para conviver entre nós, coincidindo com uma literatura de
ficção mais sofisiticada. E há os avistamentos no mar e na montanha, com naves
mergulhando ou se estabelecendo em lugares remotos.
Temos então
um fato suspeito – a existência de inteligências de outros planetas – e seus
impactos sobre nós. O fato é linguagem que impacta o imaginário. Existem de
fato? O que importa é que sim, existem nessa interação com o imaginário
coletivo.
Nei Duclós
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