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12 de setembro de 2018

TESOUROS

Nei Duclós


Não temos valor quando estamos vivos
Só depois, ao ser distribuídos
Os pertences que passam sem compromisso
Uma escova de dente de marfim antigo
Uma enxada de prata para lavrar estrelas
Um tapete persa tecido no sótão
Uma camiseta assinada pelo craque esquecido

E os livros! Insurrectos de Emílio Salgari
A Guerra dos Mascates, o Mundo da Criança
E o acervo de capa verde de Lobato

Tudo caindo aos pedaços, folheados por gerações
em profundos invernos
Uma cestinha de vime para que a mãe guardasse
Suas lãs e alfinetes e um enorme rosário

Talvez fique num canto sem propósito
Tesouros que agora somem no depósito
O que fica é o toque de mãos invisíveis
Que um dia foram nossas e agora não existem



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