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4 de maio de 2018

JERRY LEWIS EM MAX ROSE

Nei Duclós


Claire Bloom, a atriz shakespeareana que Chaplin lançou ao estrelato em Luzes da Ribalta, é o vínculo do veterano Jerry Lewis em uma de suas últimas peformances para o cinema, Max Rose, 2013, de Daniel Noah. Ele trabalha com a bela Kerry Bishé em densa interpretação da neta que amparo o avô na viuvez, Kevin Pollak, o filho enjeitado que mendiga amor ao pai em fase terminal, e Dan Stockweell, o amante oculto descoberto tardiamente, depois da morte da mulher, pelo marido de um casamento de 65 anos. Stockwell foi menino prodígio em Hollywood, fazendo filmes no final dos anos 40 e Claire dedicou mais tempo ao teatro do que ao cinema e aparece aqui para ligar Jerry a Chaplin, na sintonia do fino humor que resiste na brutalidade do mundo.

Pois é disso que se trata: um filme sobre a ancestralidade do cinema. O palhaço aposentado que sonha em voltar ao palco em Calvero é aqui o pianista de jazz frustrado que acha toda sua vida miserável. Os dois personagens mostram o gênio de Lewis num libelo contra a distorção do humor e a favor do minimalismo da graça com timidez, imaginação, poesia e inteligência. Ele se recusa a assistir uma comédia apelativa muito comum a partir dos anos 1980 e se dedica a contar e a ouvir piadas com neta. Há também citações explícitas de The Bellboy (O Mensageiro Trapalhão,1960) em que ele finge com as mãos tocar instrumentos enquanto rola um jazz pesado.

A comédia é a sutil situação terminal do drama. Quando não há saída para tanta tragédia, fazemos graça. Jerry Lewis manobrou com esse conceito a vida toda, desde a divisão de identidade de O Professor Aloprado, o mutismo poético e intenso do Bellboy, o palhaço que chorou para fazer a criança rir etc. Em Max Rose, ele torna definitivo seu recado.

No Netflix.


2 comentários:

  1. Fantástico o filme! Jerry Lewis em uma intepretaçao magistral e comovente

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