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29 de novembro de 2017

TODOS OS FAROESTES EM GODLESS






Nei Duclós


Impregnada de clássicos do gênero, o faroeste, Godless, a série limitada da Netflixx de sete episódios de uma hora em média cada um, inova com fundamentos. Não parte para a ruptura sem prestar homenagens aos grandes como John Ford, Fred Zinnemann, John Sturges. Nem muda o foco de maneira aleatória, pois ao destacar o papel das mulheres na colonização do oeste obedece a uma linhagem feminina da coragem que vai deste Johnny Guitar, com Joan Crawford sendo a leoa que se defende e ataca, até a Grace Kelly que é decisiva em High Noon, pois ela é quem resolve a parada no duelo com o facínora.

A série, criada por Scott Frank, impressiona pela narrativa bem costurada, cenários espantosos e a qualidade geral do design de produção, em que cada detalhe é levado em consideração como se estivesse em primeiro plano - e está, pois em cinema, onde tudo é feito para ser visto, não existe o tal "pano de fundo", que faz parte do teatro.para ajudar no clima da peça. Num filme tudo está na fuça do espectador e tudo se reporta à Sétima Arte. Por isso Godless vale muito.



O desfecho da trama, o tremendo tiroteio em La Belle, a cidade criada em torno de uma mina de prata que explodiu com todos os homens e deixou apenas as mulheres tomando conta da cidade, faz parte agora da antologia não só do gênero, mas de toda a história do cinema. Não só pela violência, pela contundência de mulheres disputando pau a pau (para abusar de uma expressão antiga) com a bandidagem interminável. Eram 30 bandidos, ,mas parece que são 300, ou seja, obedecem aos exageros da imprensa local, que arruma a cama da cidade ao denunciar que nela está residindo o objeto de desejo do grande vilão, interpretado de maneira soberba e sinistra por um irreconhecível Jeff Daniels. que persegue seu filho adotivo, Roy Goode, interpretado por Jack O'Connell, por sua vez acoitado pela bela e talentosa Alice Fletcher, no papel da viúva armada Michelle Dockery.

Está tudo lá: a fazenda á mercê dos perigos, a cidade cobiçada pelas empresas mineradoras, as prostitutas e os matadores, os negros da aldeia próxima, que são ex-combatentes da guerra e se transformam em lavradores. E os casos amorosos dentro da diversidade, como o casal de mulheres, o jovem ajudante de xerife com a violinista negra, o xerife cego com a viuva de dois maridos, o índio fantasma e seu cão, a velha índia feiticeira (interpretada por Tantoo Cardinal. Tudo pontuado por grandes chacinas, como se estivéssemos no clima deste século em que a matança coletiva toma conta do noticiário.

Custei a reconhecer Jeff Daniels como o brutal chefe da quadrilha. Normalmente fazendo papéis light ele assusta na crueldade, concentração e falas. É um sujeito liso, esperto, criativo e impiedoso. Um papel que certamente lhe trará os principais prêmios.

Godless: corre bala no velho Oeste. Desta vez as mulheres são em maior número. E são exímias pistoleiras, sem as antecessoras fake de outras experiências em que a protagonistas eram representadas de maneira supericial. Essas de Godless, a terra sem Deus que espera em vão a vinda de um pastor, substituído pelos falsos profetas, tem consistência e fazem chorar. Grande série.

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