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23 de setembro de 2017

DESCALÇOS NO PARQUE:A COMÉDIA ABORDA A CRISE



Nei Duclós

Neil Simon, o autor da peça que virou filme Descalços no Parque, nasceu em 1927 e enfrentou a barra da recessão americana em sua infância nos anos 1930, somada à crise conjugal permanente dos seus pais. Vingou-se no cinema rindo alto – e sendo expulso da sala – com Chaplin e Buster Keaton. Acabou diante de uma máquina de escrever e fez grande sucesso na Brodway. Dali foi convidado a ser roteirista, que é o que vemos na comédia romântica do mesmo nome, disponível no Netflix, de 1967 dirigida por Gene Saks e estrelado por Robert Redford, Jane Fonda, Charles Boyer e Mildred Natwick (que ganhou um Oscar de atriz coadjuvante).

O filme é sobre a briga de um casal que se defronta com suas diferenças depois de uma intensa lua de mel no Plaza Hotel. Ele é um advogado em ascensão bem comportado e ainda mal remunerado e ela uma animada nova dona de casa que aluga um apartamento minúsculo no sexto andar de um prédio sem elevador cheio de inquilinos suspeitos. A briga é motivada pela diferença de personalidades e comportamentos numa peça que encara vida sexual ativa, desejo na terceira idade, influência do orçamento no conforto doméstico e nas perspectivas de vida.

Tudo parece airoso e descomprometido, mas sob o verniz cômico há temas reveladores da época em que o filme foi lançado, nos anos 60. A obra oscila entre a liberdade do comportamento, que irrompia com tudo, e a necessidade da sobriedade para haver um mínimo para a sobrevivência. A ruptura parece ser por um motivo fútil mas é profunda. Ele não quer abrir mão do seu perfil sóbrio e ela se recusa a viver uma vida sem emoção e aventura. É o dilema da época: sigo a tradição ou solto os cachorros? Acabam se acertando na mútua concessão. Ele resolve pisar descalço a grama do parque no meio de uma bebedeira para atender a um pedido dela e a esposa sente saudade do cara certinho que a protegia.

Há o detalhe exótico, sempre presente no cinema americano, que se serve dos costumes de outrtos povos para pontuar a vida de seus personagens. Charles Boyer é o excêntrico vizinho do sótão que os leva no meio do inverno para um passeio na pariferia para comer comida albanesa num restaurante escondido. E a premiada Mildred é a viúva cheia de tiques e manias, tomadora de pílulas que de repente bebe demais e acorda nua na cama do vizinho conquistador. Tudo muito ingênuo na aparência, na época em que não era permitido mostrar sexo explícito, apenas sugerir por meio de camas, lençois, beijos de língua e roupas íntimas. Eu gosto como era antes. Não suporto a fungação de corpos suados balouçandes em frente às câmaras, em moda hoje.

É um bom filme. O tipo de coisa encantadora de antigamente. Eu nunca tinha visto.


2 comentários:

  1. Parabéns à sua análise concisa de um filme atualíssimo com um dos mais belos casais do cinema norte-americano. Mildred Natwick perfeita.. .

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