Repórter policial de jornal impresso que virou colunista,
famoso por ter econtrado garota desaparecida e dar voz ao desespero das vítimas
de crimes, é obrigado por um tubarão mafioso e uma loura fatal a achar um vídeo
comprometedor com cena de sexo explícito, o que acaba ameaçando sua esposa bem
sucedida, cirurgiã, e um casal de filhos. Narrado em off, como manda o figurino
dos filmes policiais noir dos anos 30 a 50, ele é tomado pela obsessão de
decifrar o mistério do assassinato do marido cineasta da loura, que o envolve
em tórrida e perigosa paixão .
Baseado em grande sucesso de Collin Harrison, premiadíssimo
autor policial, Manhattan Nocturne (2016) foi escrito e dirigido por Brian
DeCubellis e é uma das boas atrações recentes do Netflix. Interpretado por
Adrien Brody (o jornalista), Yvonne Strahovski (a loura fatal), Campbell Scott
(o marido assassinado), Jennifer Beals (a esposa) e Steven Berkoff (o vilão).
Já foi feito o lead, agora vamos ao que interessa. O que é o
cinema em Manhattan Nocturne? A narração em off, que costura a história? A
coleção de cenas póstumas gravadas em vídeo por um cineasta que foi
assassinado? Ou as imagens “reais” do filme, que interagem com as imagens
confinadas em pen drives? A estrutura narrativa lembra Giuseppe Tornatore de La
Correspondenza (Lembranças de um amor eterno, 2016), em que um veterano
professor desenganado prepara uma série de vídeos que são aos poucos liberadas
depois de sua morte para a jovem namorada. A correspondência entre os dois
filmes não é aleatória. Em ambos o legado do cineasta ou professor atormenta a
mulher deixada em vida, um de forma proposital e outra por contingência de um
crime.
Como todo filme é sobre cinema, pergunta-se se a essência da
Sétima Arte está na alienação gerada pelas imagens “normais” (dentro da
história do filme) ou pela interlocução com as imagens “reais” (produzidas pela
história embutida na obra), que também são manipuladas? A narração em off seria
um adendo, um apêndice das imagens ou o protagonista da obra, já que tudo
remete ao imaginário do espectador (o filme é o que fica na memória visual e
cognitiva, deslocando-se da origem, que passa)? São perguntas que podem ser
desdobradas em outros textos, já que esse recurso é cada vez mais recorrente
nos trabalhos cinematográficos. Em Memória de Helena (1969), David Neves lida
com um roteiro de Paulo Emilio Salles Gomes, nosso pensador maior do cinema ,
usando o que havia na época: o super-8, já que nem o vídeo tape existia.
Não se trata de um truque narrativo, mas uma abordagem
teórica do cinema, em que se pesquisa sua essência, embutindo uma narração
dentro da outra, como em muitos romances. Tudo é verdadeiro na manipulação de
palavras e imagens dentro da moldura de um filme. Ou seria tudo falso?
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