Nei Duclós
Revejo pela milésima vez cenas de Easy Rider, traduzido por
Sem Destno, mas é uma expressão americana antiga, que define a vida mansa,
principalmente de malandro que vive sem trabalhar. Os dois personagens de moto
tinham destino certo: queriam levantar uma grana preta traficando drogas numa
viagem para lugares remotos, estados pobres e racistas dos Estados Unidos, mas
se deram mal. Expuseram o carona para os facínoras que o mataram. E se
dispersaram numa viagem de ácido num cemitério e nas ruas de Nova Orleans, no
carnaval de Mardi Grass. Nós explodimos tudo, diz Peter Fonda, respondendo a
Denis Hopper que considerava vitoriosa a expedição.
É a saga de uma grande derrota, que mostra a América urbana
e rural ao ar livre, fora do capô dos carros, com os cenários sendo
apresentados conforme o ritmo da magnífica trilha musical. Como num faroeste,
mas muito além do Monument Valley. Cinema de vanguarda até hoje, Easy Rider é o
impacto provocado por novos hábitos e costumes diante de uma nação hipócrita
que celebrava a liberdade mas tinha pânico dela, conforme a antológica fala de
Jack Nickolson, que emergiu neste filme tornando-se estrela de primeira
grandeza.
O cinema em Easy Rider é a mixagem rápida e radical de
cenários caóticos de uma América que escondia sua riqueza humana, a dos
marginalizados e das cidades abandonadas. Deste filme podemos dizer que nunca
mais fomos os mesmos. Tirou a Sétima Arte definitivamente dos estúdios e
jogou-o no meio do caos urbano e social da nação mais rica do mundo. Uma
bofetada de Hopper, estrela junto com Nickolson criados no cinema marginal de
Roger Corman, em que tudo podia desde que fosse de baixo orçamento.
Há links poderosos com o espírito pioneiro dos americanos
que se deslocam pela aventura, com os comboio9s antigos no meio do nada, com as
confraternizações coletivas e intensas das festas populares mal comportadas,
com bares obscuros cheios de ódio e ressentimento. As casas detonadas na beira
da estrada, a humanidade brutalizada no grande interiorzão, tudo é devassado
por essa viagem terminal que ao inaugurar uma nova era a enterra com dois tiros
de escopeta e uma moto voando em fogo para o acostamento.
We blow it,
man.
Easy Rider...Sem Destino....antes e depois. (Gilberto Motta - Florianópolis/SC)
ResponderExcluirInesquecível!
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