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7 de setembro de 2016

DIZER O QUE FICA




Nei Duclós


Parece simples dizer o que fica. Mas é duro desistir de ser difícil.

Às vezes a palavra tarda.Ela espicha o fôlego no mergulho antes de vir à tona.Por isso esse verso que parece suspiro, mas no fundo é um urro

O tempo enterra tudo para extinguir o que é vivo. Mas é traído pelas sementes.

Se tens um projeto, realize. Nada tens a perder senão o medo

Viver é uma arte que guardamos no sótão para evitar a avaliação do mercado

Cuidei da minha biografia: noites em claro, cidades remotas, trilhas perdidas, abismos. E a observação de pássaros competindo com o mar.

O ano está passando a ferro e fogo o lençol amassado de lembranças. Somos daquele tempo em que viver tinha prioridade.

Não perco tempo. Em cada respiração, escrevo. Não a caneta ou teclado, mas com o espanto, esse recurso desperdiçado pelo sofrimento.

Não sei mais o que dizer. Perdi a embocadura do ser. Mas vou sair atirando no estouro dos cavalos selvagens. Dispense mais tempo à leitura. Cate letrinhas

Não se aproprie de todas as virtudes deixando as sobras - os crimes - para os outros. Divida para que a solidão não assuma o poder.

O rio subterrâneo da criação flui o tempo todo. De vez em quando mergulhamos para trazer à tona o poema ainda se debatendo.

Minhas palavras não nascem para ocupar teus nichos. São pássaros selvagens sobre paisagens tímidas

O mito precisa ter cuidado de não fazer besteira antes de desaparecer. Para não ser lembrado só pelos seus erros.

O vidro imobilizou as folhas que se debatem numa neblina surda

Nosso cenário é limitado: rosto e pés. E as paisagens que colecionamos nas viagens quando pedimos que alguém bata fotos do nosso sorriso na porta dos templos.

 Isso é tudo por ontem



RETORNO - Imagem desta edição: Karen Tarlton

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