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26 de agosto de 2016

PERSON, UM GÊNIO NAS GARRAS DO BRASIL



Nei Duclós

Há tempos queria ver o documentário lançado em 2007 da Marina Person (assisti no canal Curta!) sobre o pai, Luiz Sérgio Person, que com apenas dois filmes, São Paulo S/A (1965) e O Caso dos Irmão Naves (1967) ocupa o top do ranking dos grandes cineastas brasileiros. O que me agradou foi a quantidade enorme de informações que eu desconhecia do gênio.

Fica claro no belo documentário que ele é um cineasta de forte influência do cinema italiano. Era um ator medíocre (como ele mesmo reconhecia) de cinema e TV e ganhou uma bolsa de estudos num instituto de cinema experimental na Italia e lá ficou por um ano e meio. Fez na Europa dois curtas premiados, Il Ladro e Il Ottimista sorridente. Voltou ao Brasil para filmar sua obra prima, São Paulo S/A.

A influência do cinema italiano é total na magistral saga de Carlos, o brasileiro sufocado pelos compromissos numa cidade que se industrializou rapidamente. Há muito Fellini nas cenas de desfrute inspiradas em la Dolce Vita, com Darlene Glória, estonteante, ou a visita que ela faz à mãe, tirada das memórias fellinianos de cenários vazios ao som do vento. E mesmo no ritmo da história, ambientada na Roma personiana, a cidade de São Paulo. Carlos é um Mastroianni perdido na voragem das mudanças, dividido entre a ética e o desperdício, entre a moral e a falta de escrúpulos, entre a família e a putaria.

Nos Irmãos Naves há uma carga pesada de Francesco Rosi e de Visconti. Mas Person acabou ficando sem dinheiro e tendo que vender seu talento para filmes publicitários e assim sustentar a família (mulher e duas filhas, Marina e Domingas). Fez sucesso depois de ter sido humilhado (olha lá o diretor de São Paulo S/A vendendo seus filminhos, diziam nos bastidores das grandes agências). Tentou investimentos para filmar a grande obra de JJ Veiga, A Hora dos Ruminantes, mas foi desencorajado: Ninguém vai ver isso! disseram. O Brasil é craque em sepultar projetos no ovo.

Partiu então para produções como Panca de Valente (que está inteiro no you tube, assim como São Paulo S/A) e Cassi Jones, o Magnífico Sedutor, que é uma homenagem que fez à chanchada brasileira. Achava o pessoal do Cinema Novo um bando de garotos cheios de ilusões e foi achincalhado como intelectual (que no Brasil é nome feio) do cinema. Comprou o teatro Augusta e montou peças como El Grande de Coca Cola,que foi o maior sucesso. Repartiu-se em muitos numa vida curta. Encorajou José Mojica Marins, fez filmes que não assinou, chegou a gravar cenas de um filme com Roberto Carlos etc.

Uma história típica brasileira. O gênio desperdiçado depois de provar seu talento. Morreu num acidente de automóvel dirigindo em velocidade numa estrada perigosa, aos 39 anos. Marcou a historia da cultura brasileira com seu brilho. Assim maltratamos quem nos trata bem.


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