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15 de julho de 2016

VINDE VER OS MORTOS SOBRE A RUA




Nei Duclós


O terrorismo fecha o cerco. Primeiro feriu a liberdade de expressão no atentado contra os cartunistas. Depois massacrou a opção coletiva de lazer numa boate. E terceiro reprimiu manifestação cívica de celebração da identidade nacional.

Estamos em guerra novamente e desta vez ela está disseminada por todo o tecido social. O front é aqui. A civilização tornou-se vulnerável demais ao se iludir que poderia definir a linha de conflito, quando esta esgarçou-se, migrou para as fronteiras dos países ricos e invadiu o coração das cidades antes consideradas seguras.

Tornou-se arriscado promover aglomerações gigantescas em jogos, shows, eventos patrióticos. É fácil para um ou mais matadores atirarem a esmo, sem ver a quem. Não importa o indivíduo morto, mas o impacto nos hábitos, no imaginário, na política. O que era exclusivo de países barbarizados agora estende-se para cada metro de calçada, avenida, edifício, bairro, casa ou rua.

Os aparatos de segurança são obsoletos, assim como os esquemas de inteligência. A violência emerge de qualquer lugar e sob qualquer roupagem. Está chegando ao fim a impunidade dos governantes que confiam nas tropas estabelecidas e imobilizadas, e na eternidade do sistema financeiro de exploração global para continuarem no poder. Os pilares dos princípios e das leis fazem água. Há um tsunami prestes a explodir em cada iniciativa de extermínio.

Claro que tudo isso não passa de pessimismo, dizem. É preciso confiar que as coisas voltem ao normal, enquanto elas se intensificam no perigo. Até quando os mortos atirados no asfalto serão contados pelas estatísticas sem que algo mude profundamente? Não abriremos mão do nosso estilo de vida, dizem europeus e americanos atingidos de morte. Vão ter que abrir e não será se transformando de novo em ditaduras. Já foi provado: isso não é uma solução.

Não há outra saída pelos poderes que se consolidaram no discurso fúnebre das ideologias salvacionistas, democracia inclusive. Terão de mudar, e para melhor. Como ? Esse é o desafio.

Já existiam sinais de que o bicho ia pegar. Bem.O bicho pegou.

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