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22 de maio de 2016

REBELIÃO



Nei Duclós 

Discordo tanto que acabo
ficando quieto. Não em
silêncio, mas fazendo
barulho coração adentro

Centro avante da solidão
no jogo sem bola
vendo que a meta artística
é o enriquecimento

Tudo foi em vão, gerações
de espanto, empobrecidas
e mortas por destino torpe
Distorções da nação em pânico

Quem dera ao redor do fogo
refazer a saga do rapsodo
Homero visionário do verbo
que habitava o pão do sonho

Na arena envenenada
não há espaço para a palavra
mas sua contrafação, ideológica
ou simplesmente retórica

Árdua composição de suor
e karma, seguimos no mesmo
tranco, estrada sem esperança
mas por decisão, sem volta

Só que a dança agora é outra
ficamos soltos no rígido
esquema. O poema aumentou
sua rebelião sem chance


RETORNO - Imagem desta edição: cena do filme Germinal (1993), de Claude Berri (1934–2009)

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