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30 de agosto de 2015

A LITERATURA CHEGA AOS 40 ANOS



Nei Duclós

Do dia 3 ao dia 13 de setembro estaremos no estande C18 do Pavilhão Laranja dos Autores Independentes da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, no Riocentro,  sempre das 14 às 20 horas,  para o lançamento do livro TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO (Edição do Autor, 161 pgs, R$ 30). O evento oficial é dia 5/09 às 17 horas, mas estaremos presentes, com várias atividades, o tempo todo no grande encontro internacional.

É a oportunidade de fazer deste projeto vencedor, selecionado pela Petrobras Cultural, a exposição do meu trabalho literário de 40 anos (estreei  em 1975) , que já conta com 20 títulos, entre impressos e ebooks. Depois do Rio, vamos fazer eventos em Florianópolis e São Paulo em outubro, e Porto Alegre em 5 de novembro na Praça de Autógrafos da Feira do Livro às 17 horas.

Sem o apoio, a assistência e a competência dos familiares, toda essa obra não existiria. Sem a sintonia, a interação e o trabalho conjunto de inúmeros amigos, nada teria sido feito. Sem pensar no futuro, representado por filhos e netos, não teria valido a pena. Sem lembrar os que se foram, e deixaram sua marca no tempo, seria injusto. Por isso homenageio os que passaram pela nossa vida e participaram dessa trajetória na literatura, na arte, na fotografia, no jornalismo ou na simples e pura amizade. São inesquecíveis:

Mario Quintana , Mario Chamie, Caio Fernando Abreu, Julio Monteiro Martins,  Lygia Averbruck, Zé Gomes, Reginaldo Fortuna, Tarso de Castro, Marcelo Min,  Múcio Borges da Fonseca, Dedé Ferlauto, Gilberto Gick, Edson Kosminski , entre muitos outros.

#bienalrio

RETORNO - Fotos de Naná Monteiro

27 de agosto de 2015

TUITS RECENTES SELECIONADOS






Nei Duclós

Frase agressiva sem endereço certo ofende quem não tem nada a ver.

Dizer é tão vazio quanto calar-se. Pense numa saída,  covarde.

Que esperança há numa civilização focada em vender cerveja?

A sabedoria é minimalista. Suas máximas são sínteses de fontes múltiplas. A ignorância é prolixa.Suas máximas são fruto de pensamento mínimo

O auto-esculacho é um passaporte falso para esculachar os outros.

Artigos de economia são paisagísticos. Só falam em cenários.

Se você detém o poder, toda bobagem que disser conta.

Pior é a deprê com companhia, que contribui para a manutenção do mergulho

Cultura é o que fica, enquanto todo o resto parte

És a única bagagem, o último destino da viagem.

"Isso é mais complexo do que parece" é uma argumentação simplória.

Não importa a lógica. Importa criar uma argumentação que sirva a qualquer poder.

Quem entende mesmo não dá a mínima. Distribui positivos para os debatedores engalfinhados e vai sestear.

Não somos feitos de átomos de carbono. Os microscópios são cegos e os cientistas usam bengala.

Física é a ciência que permite aos físicos dizer os maiores absurdos

Só o samba pede passagem, o resto compra.

O grande assunto do samba é o próprio samba.Não deixe o samba morrer, o samba pede passagem, só danço samba, samba de uma nota só, sambinha

Internet é ocupação para desocupados. Gente séria pega duro no batente teclando em composição a chumbo.

Não reaja ao assalto senão você vai preso. O assaltante é solto, mas você não.

Nossa indignação é provocada pela tragédia tratada como comédia pelos governantes.

Exterminando a internet, o desemprego irá sumir e voltaremos aos índices confortáveis da comunicação por tambores.

Netflix tira emprego de bilheteiros e lanterninhas das salas de cinema. Assim não pode.

Que importância tem hoje um editorial?

Se fosse vivo, jamais teria morrido.

Músicos poderiam evitar semicerrar os olhinhos, sacudir a boca, franzir o cenho e fazer cara cool na hora de tocar. Toque e pronto.

Se a vida te der um limão, faça dele uma limousine.

Mania de ano que não terminou ou não deveria ter terminado. Os anos terminam.

O poder é exercido no Brasil por obra do vampirismo e não pelo resultado da consciência e da pressão da cidadania.

Guerreiro do povo brasileiro é São Jorge.

Não existe cargo de Embargador?

As palavras entregam tudo. Por exemplo: ilibado. Sugere alguém lampeiro, seboso, que tem a esperteza como libido.

Toda hora alguém fala mal da situação contemporânea em favor de algo melhor do passado. Esquecem que só no presente estamos vivos.

O mundo anda e ficamos cada vez mais para trás.

Ligo no noticiário espanhol: crise dos migrantes, tensão nas Coreias, resíduos da grande explosão na China. Ligo no Brasil: Eduardo Cunha.

Perdi meus óculos e liguei para o número dele para ver se localizava.

Estou meio ruim dos olhos, o que me deixa confuso. Por isso fui em frente ao espelho no banheiro e apaguei a luz para enxergar melhor.

Tudo é tudo. O resto não é tudo.
Nada é alguma coisa.

- Você se satisfaz com qualquer coisa, disse ela.
- E você não se satisfaz com nada, disse ele.
Nunca esqueço o primeiro Rock in Rio. Não compareci.

Tem gente que gosta de ignorar solenemente o que ignora.

Alavancas ou disponibilizas inicializando?

Descadastre-se se não quiser receber mais nossos spams idiotas e desnecessários.

Os jornais estão morrendo porque as notícias apodreceram. Tragam-me a nova, pássaros da minha terra.

RETORNO - Imagem desta edição: foto de Nei Duclós.

26 de agosto de 2015

DIAMANTINA



Nei Duclós

Não te escondas da beleza
que emana de ti, à revelia
queres ser normal, imaginando
assim tua natureza humana

Desista, deusa, desse objetivo
foste moldada pelo mau destino
quando ficou cansada a natureza
de errar à toa a criação impura

Cravou-te o extremo preciosismo
que desce dos ombros ate a cintura
e caprichou nas pernas, o colo e tudo
que deu sentido à terra empobrecida

És a riqueza que brota em formosura
brinco de jade, anel de diamantina
seta envenenada que surpreende
o pobre mortal que a admira

RETORNO -  Imagem desta edição: obra de Bouguereau.

A NATUREZA COMO FONTE DA NAÇÃO



Nei Duclós

No meu livro TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO (Edição do Autor, 161 pgs., R$ 30) natureza e nação se complementam em várias cenas da narrativa. A começar pela ligação profunda do casal Pedro e Leopoldina, exímios cavaleiros que viviam enfurnados nas matas ao redor do Rio de Janeiro. Com apoio, entre outras fontes,  de R. Walsh de Noticias do Brasil e Maria Graham em suas memórias, coloquei nas falas dos personagens várias descrições da fauna, da flora e do ambiente brasileiro. Há ainda a realidade do pampa visto por Dom Pedro II, pelo lanceiro Fabião e sua segunda esposa.



Um trecho importante é sobre o general holandês Dirk Van Hogendorp, conselheiro de D. Pedro I que se exilou num sitio do Corcovado no Rio depois de passar a vida lutando ao lado de Napoleão. Lá ele produzia alimentos que vendia no mercado. Há ainda a fuga de Denise pelos ermos no Brasil como combatente da coluna Prestes e sua luta pela sobrevivência em território abandonado e hostil. Os protagonistas assim circulam pela natureza em cada página no romance,  revelando aspectos do Brasil que foi à guerra envolvendo líderes e soldados que tinham grande intimidade com o ambiente natural.  

No século 19, o naturalismo fazia parte das políticas públicas do Império brasileiro. Era preciso conhecer a floresta para descobrir seus recursos naturais e encontrar a melhor forma de aproveitá-lo. Existia uma espécie de consciência ambiental, capitaneada por ilustres personagens como José Bonifácio de Andrada. O livro de José Augusto Pádua, “Um sopro de destruição: pensamento político e crítica ambiental no Brasil escravista (1786-1888). Jorge Zahar Editor, 2002” é uma fonte generosa de informações sobre essa realidade.

Segundo Pádua, as informações sobre a natureza brasileira começaram a ser divulgadas no início da colonização por viajantes, cronistas e religiosos, como Fernão Carim, Gavriel Soares de Souza e Pero Gandavo. Em 1801 o príncipe Dom João deu instruções para o aumento do Real Jardim Botânico pedindo a colaboração dos administradores da Bahia para a publicação de uma “Flora Completa e Geral do Brasil”. Em 1812, Dom João baixou uma determinação régia que estabelecia uma cadeira de história natural em todas as captais, destacando o ensino de conteúdos relacionados à botânica, zoologia, química e mineralogia.

As expedições para o interior do Brasil estimuladas pelo poder imperial, perdiam seu caráter militar ou geopolítico para se tornar cada vez mais “filosóficas”, isto é, científicas, voltadas para o conhecimento objetivo do que a terra expunha em todos os quadrantes da pátria. Merece destaque as viagens do biólogo George Freyreiss, do príncipe Maximiliano de Wied-Nuwied, a expedição Langsdorff e a chamada Missão Austriaca (1817 – 1820), com participação do médico e naturalista Carl Von Marttius e do zoólogo  palentólogo Johann Von Spix.

Um crítico ambiental do século 19 foi Antonio Moniz de Souza, que alertava: “Sem o reino vegetal nada existira sobre a terra”. Ele era conhecido como o Homem da Natureza Brasileira. Nasceu em 1782 na Bahia numa família de agricultores, tendo sido vaqueiro, capitão de ordenanças até entrar em contato com o grande naturalista frei José Mariano da Conceição Velloso. Fez várias viagens pelo interior do país com pequena ajuda de subscrições de quem o apoiava em seus estudos. Eram recursos escassos comparados às expedições estrangeiras, de alto custo.

Os viajantes estrangeiros interessados na nossa flora e fauna aqui aportaram sendo recebidos com pompa pelo império. Nem sempre se comportaram à altura dos seus hospedeiros, pois carregaram toneladas de exemplares sem dar retorno ao que o Brasil lhes proporcionou em apoio. Havia a tendência mística de ver na natureza o perfil da nação continente, o que faz parte dos vetores que a tradição impôs à ciência nascente do naturalismo e da ecologia. Nossos heróis catarinenses se desvincularam de todos esses apêndices, pois mergulharam fundo no aspecto cientifico de suas abordagens e isso é que lhes dá perenidade em suas obras.

24 de agosto de 2015

AS MULHERES NO NOVO ROMANCE



Nei Duclós

Fortes personagens femininas são um dos pilares do meu novo romance TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO. Alguns trechos:

IMPERATRIZ LEOPOLDINA - “Mulher e flor: as plantas amam? Duvido. Mesmo aprumadas num colo de princesa elas exalam um pouco a indiferença, o ar blasé da bem nascida. No mato então elas se multiplicam, tendendo mais a formigueiro do que a baile de gala. Fui criada no luxo, onde estudei livros sobre a natureza. Mas a curiosidade e o casamento me despejaram neste lugar, que é o paraíso intocado. A diferença é brutal. No palácio do meu pai, a equitação era uma arte, aqui uma necessidade de sobrevivência. Vim porque a fantasia é o vestido de baile da mentira. Não me arrependi a maior parte do tempo, a não ser quando descobri que jamais veria de novo o lugar da minha mocidade. Mas desde o primeiro instante aceitei e ao mesmo tempo escolhi o meu destino: ser esposa de um príncipe herdeiro, dar filhos para eternizar a linhagem e depois ajudar a gerar uma nova pátria no ventre da dominação e da guerra. Quem presta atenção numa mulher?”

SILVANA - “Porque foi ver Silvana para o coração bater no teto. Não só pela formosura, mas pela maneira decidida e liberta de ser. Aquilo era negra para ninguém botar defeito. Para mim, era uma rainha, e eu o príncipe mau que mata todos os pretendentes só para roubar a moça. Ah, meus amigos, conhecer Silvana foi a única coisa boa que me aconteceu em todo esse tempo em vivi sobre a terra. Valia mil guerras, podia derrotar um exército só com uma virada de rosto. Os olhos eram dois pregos cravados na tua alma como se tu fosse o crucificado. Não tinha como escapar daquela deusa. Mas eu ainda não tinha visto nada. Quando ela pela primeira vez dançou para mim, eu vi que estava perdido. O corpo era uma pintura, nem conto para não provocar inveja. Isso aconteceu no caminho de volta. Ela não aceitou minhas investidas porque sou judiado, mas ninguém me bota fora assim no primeiro encontro. Coloquei Silvana em cima de numa junta de bois e inventei uma espécie de cobertura parecida com as de carruagem. Ela vinha sacolejando, cheia de flor na cabeça, sorrindo de alegria porque ia rever o pai e mais faceira ainda porque lhe propus casamento e ela topou. Só para escapar de onde estava. Mais tarde me confessou que aprendeu a me amar. É como eu digo. Tudo se aprende nessa vida, até a gostar de um sujeito mal encarado com eu, que todos conhecem como Lanceiro Fabião, o rastreador”.

A VELHA – “- Puma, leão baio, suçuarana. Rosna mas não ruge. sopra e assobia. Pia como pássaro e abateu minha única vaquinha, se banqueteando sem deixar ninguém chegar perto. Não reparte. Devora até meus peixes quando a sanga está cheia. Não tenho mais o que comer. Com a guerra, a falta de homem deixou o bicho à vontade. Não espera mais a noite para caçar. Se expõe de dia e se diverte assustando as perdizes e os quero queros. Ronda meu casebre a qualquer hora do sol, da noite ou da chuva. Fixa os olhos em mim como se quisesse gravar meus pensamentos. Adivinha o que vou fazer e se adianta. Não tenho mais sossego. Antes fazia longas caminhadas para buscar o que comer, agora só fico roendo raízes. Mas vossa majestade, se é assim que se apresenta, não tem como me ajudar. Essa véia que o senhor contou, que se atirou a seus pés pedindo esmola, não é do meu feitio. Não há dinheiro que mate uma suçuarana. Só mesmo um tiro certeiro, depois de uma tocaia perfeita.”

DENISE – “A guerra levou minha vida e não colocou outra em meu lugar. Perdi pais, amigos, rotinas, estudos. Fui bombardeada por todo o corpo. Encontrei o amor no meio do troar do canhão, do fogo da metralha, do esguicho de sangue vertido pela baioneta. Engravidei e por isso tomei o trem de fuga para o interior do Paraná. Lá vi mais morte e derrota. Os líderes não sabiam comandar, os soldados não estavam preparados. Houve mais uma debandada, uma crueldade sem limites. Mas precisava de uma nova família e abracei a revolução. Cruzei a fronteira junto com as outras mulheres, proibidas de seguir no combate por ordem daquele capitão de pedra, o Luis Carlos Prestes. Me misturei às fêmeas que cuidavam dos soldados Minha gravidez ajudou a atrair apoio, carinho e confiança. Mas eu queria aprender sobre armas e não providenciar a roupa ou a comida. Com o barrigão crescendo, azeitei e montei armas, fiz mira em coruja e comecei a abater o inimigo nos momentos mais duros das correrias disfarçadas em batalhas. Fiz a coluna por muitos quilômetros. Atravessamos a pé e a cavalo todos os desertos. Anônima, eu era o retrato da fuligem. Só quando pari no meio dos cactos é que me deixaram de lado. Não me queriam mais. Eu insistia que continuaria combatente, mas não podia haver choro de criança em acampamento militar”.

RETORNO -Livreiro, faça sua encomenda. Amigo, adquira seu exemplar autografado. Escrevam para neiduclos@gmail.com. TUDO O QUE PISA DEIXA RASTRO (Edição do Autor, 161 pgs., R$ 30), livro selecionado pelo programa Petrobras Cultural.