Nei Duclós
Por mais que extraia flor
do granito que protege a gruta
e aguarde o líquen cair em gota
sobre a fonte azul rupestre
e haja sinais de esgotamento
no arfar do tempo datado
em séculos de pedra
sem vislumbrar saída
Por mais que eu viva no mergulho
deste ofício sem futuro
sempre haverá uma nesga de sol
caída por acaso em raiz úmida
Lá medra o poema, insistente vício
velado por ancestrais sem batismo
os que se confundem com a mata
ainda em sobrevida, cegueira da serra
Tímida tabuleta de vidro, escrito
pelas paredes de uma cachoeira
que se reproduz em série adventícia
lixo do maná, erva de bicho
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