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13 de abril de 2015

PÓLVORA SECA



Nei Duclós

Minha devoção é a palavra
a trato mal, como a um santo
comprado na feira
Vivo na fronteira do rio
que a banha. Faço manha
nos pedidos. Quero viver
sem compromisso, sem cantar
o hino, sem compartilhar o vício

Sou agnóstico de suas rezas
apenas gosto da teologia
seus sermões, suas sonatas
Tenho com a palavra a memória
da serenata, o grito da janela
quando partimos para a capital
jogando a infância fora

Sei onde ela mora, no templo
construído no ar, sopro de vela
cristais e guizos, vociferar de balas
Palavra quando quer faz a guerra
No front carrego para a arrancada
rumo ao monte castelo da neve
penetro na casamata, lá a musa
dorme o sono de pólvora seca


RETORNO - Imagem: obra de Victor Gabriel Gilbert




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