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20 de fevereiro de 2015

AINDA MOÇO





Nei Duclós

Não me importo mais em enxergar
pouco. Ou misturar os sons
que já nem ouço. Ou ser chamado
de sonso. E não ter paciência
para o jogo que o dia obriga
na disputa do osso

No fundo é tudo esboço
de uma vida futura, pelo avesso
quando o mundo exaure enfim
seus hábitos e torna-se o que sempre foi
absurdo.

Por isso não se despeça quando eu estiver
morto. Não estarei no aeroporto
para te tratar de hóspede. Nem no funeral,
apenas o corpo. A alma também partirá
para um recomeço num lugar onde a memória
não possui passaporte

Estou pronto, aproveite que ainda sou
moço. E tenho esse dom à mostra
que é a palavra sem rebuços, arte
que aprimoro para dizer o que sinto

RETORNO -  Imagem desta edição: obra de Edward Hopper.

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