Recebo uma carta de Alessandra, que conviveu por dez anos
com Julio, e com ele teve a filha muito amada Beatrice. Julio morava em Lucca,
na Italia, onde era professor e editor, e foi o mais importante escritor
brasileiro em atividade no Exterior. Ele é autor de inúmeros livros e criador
da melhor revista cultural do mundo, a Sagarana. O conheci muito moço, pelas mãos de Caio Fernando Abreu. Fiz o prefácio do seu primeiro livro, Torpalium e ele traduziu, junto com seus alunos, alguns poemas meus para o italiano.
A carta de Alessandra, escrita nesta véspera de Natal, é de
partir o coração.
"Queridos amigos,
Hoje Julio decidiu nos deixar. Estava na hora, despediu-se
tranquilo. Foi em paz, lúcido,protegido pelo amor da família e dos amigos, sem
sofrimento. Decidiu adormecer, entrando devagarinho no sono eterno.
Enfrentou a doença como guerreiro que era, com coragem, sem
poupar forças, com fé. A sua fé laica sempre foi aquela das esperanças, porque
ele era mesmo assim: um homem que sabia contar-se uma realidade mais feliz, um
homem que voava e imaginava coisas bonitas.
A nós que sobrevivemos resta a missão de proteger e fazer
crescer em saúde seus filhos amados. Minha parte será cuidar dos filhos
humanos. A vocês peço o favor de cuidarem dos diversos filhos de papel e Arte
gerados por ele, assim Julio continuará presente entre nós.
A ele, meu companheiro por dez anos, meu marido, pai de
Beatrice, prometi o último presente: uma celebração com todos os amigos ao lado
dele. Uma festa, porque os brasileiros amam as festas e Julio mesmo neste
aspecto era deliciosamente brasileiro.
Sei que diversos amigos brasileiros, americanos,
portuguêses, francêses, alemães moram longe, para eles será difícil participar
à celebração em memória de Julio. Assim, através destas linhas mando também a
eles lembranças e carinho.
Um abraço bem apertado a todos. Sei que Julio não fará falta
apenas a mim.
Com afeto
Alessandra"
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