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8 de junho de 2014

DIÁLOGOS





Nei Duclós


- Chega, disse ela.
- Não posso, disse ele. Eu paro mas os versos continuam.

- Você fala do que não entende, disse ela.
- É por isso que falo, disse ele. O que entendo eu calo.

- Dance comigo, disse ele.
- Você insiste, disse ela. Já falei que venho aqui só pela música.

- Você está se repetindo, disse ela.
- O amor continua o mesmo, disse ele.

- Seja claro, disse ela.
- Só consigo quando me iluminas, disse ele.


AQUELE  JACK O MARUJO

- Case comigo, disse Jack o Marujo.
- Tarde demais, disse a Sereia. Há tempos estou casada contigo

- As mulheres tem todas as respostas, disse Jack o Marujo.
- Dispomos de tempo, disse a Sereia. Os homens demoram a fazer nossas perguntas.

- Qual o sentido da vida? disse Jack o Marujo.
- Não se faça de tonto, disse a Sereia. Venha para cama.

- Hoje foram os 70 anos do desembarque da Normandia, disse o Almirante.
- Só a bravura deixa herança, disse Jack o Marujo.

- O corpo da sereia te esquenta no frio? perguntou o marinheiro.
- O que esquenta é o coração, disse Jack o Marujo. O corpo pode até ter escamas.

- Vamos te matar desta vez! gritaram os piratas.
- Vocês são serviço para meia garrucha, disse Jack o Marujo

- Já lutou bastante, capitão, disse o Almirante. Hora de jogar a âncora.
- A coragem não se aposenta, disse Jack o Marujo.

Num certo porto além de Bornéus, uma conspirata convoca o capitão Jack o Marujo.
- Nem fodendo! bate na mesa o velho marinheiro.


PÉROLAS

Tudo é palavra, mesmo quando se quebra. Não me refiro a sílabas, mas a pérolas.

Lavramos a terra com poemas. Depositamos a dura semente. Colhemos o que nos falta, o pão que se reparte.

O que existe é a palavra. Somos sua poesia

O arame é a pista de pouso e decolagem da equilibrista. A sombrinha, seu plano de voo. A saia, sua sedução e sonho.

Toda imagem faz justiça. Revela o que escondemos no bolso da camisa.

A falsa admiração contamina todas as falas. Manipula até sem querer estiletes em direção à pleura.


CENAS

Meu olho completa o que não vejo mais
Coloca remendos de tempos atrás
Enxergo um frankestein de cenas reais
o monstro se levanta no piso do cais
relâmpagos movimentam suas pás

Sou o cientista zarolho das matinés
uso capa para voar como os heróis
assusto a mocinha de vestido xadrez
assalto a diligência ainda de manhã
É tudo confuso como num mural