Nei Duclós
A solidão, a despedida, faziam parte
da família. No território ímpio da ausência medrou a poesia.
Fechei o caderno. As memórias cansam.
Depois de contar sua vida, invente
outra.
Olhava para o teto, que transcendia.
Estava em outra religião, a do heroísmo. Quando descia, era um despencar de
amor impossível. Tudo junto naquelas tardes de moças inesquecíveis.
Nosso amor não passa de uma frase.
Mas já dura anos.
Deus te crie. Deus dentro de ti.
Não sei de onde tiro o que te
aproxima. Talvez a vontade que me desperta todos os dias. De estar contigo,
mesmo que não existas.
Deste indeciso amor nada ficará. Só
quando o vento soprar numa pluma esquecida no teto é que haverá memória do que
hoje desconfias.
Palavras passam como nuvens.
Algodões em teus verões expostos. Chuva nas reservas do teu corpo.
Te decepciono com as alternativas
que me dão por perdido. Mas sempre fui assim, neblina dos meus olhos.
Fomos corridos pelas evidências do
que somos. Mas driblamos o explícito com nosso ofício, tirar som da pedra
bruta.
Não estás afim, mas não me importo.
Vale o escrito, desenhado em teu muro.
Minto para viver o que me negam.
Sinto para dizer a verdade.
Desistimos porque tudo parece o
mesmo. Mas cada minuto é o milagre que pedimos.
Moro em ti, amor que a vida
permitiu. Onde me refugio, canteiro sob a varanda dos teus dias.
Saudade é a identidade do amor
verdadeiro.
Esfriou. Subitamente. O inverno é
uma visita que não se anuncia, embora esteja prevista no calendário. Achamos
que o calor continuará para sempre. De repente, estamos em plena geleira sem tempo
de migrar para os verões remotos.
O mesmo verso antigo que guardaste
um dia agora está na esquina passando frio. Convide-o para um café e escute com
outros olhos o que ele disse.
Sonhei-me em teu sono.Me despertaste
porque queria tocar.
Amanheceste sem auxílio de ninguém.
És um impulso que inventa o dia
Nenhum som, nenhuma luz lá fora.
Tudo se refugiou no que chamas alma e que é tudo de ti.
OLHAR PERDIDO
- Sempre achei que homem não ama,
disse a Sereia.
- E é verdade, disse Jack o Marujo. Eu apenas me perdi no teu olhar.
- E é verdade, disse Jack o Marujo. Eu apenas me perdi no teu olhar.
- É sublime o fato de você ser
sereia, disse Jack o Marujo.
- Por que? perguntou a Sereia.
- Porque fico trêmulo ao te tirar as escamas.
- Por que? perguntou a Sereia.
- Porque fico trêmulo ao te tirar as escamas.
- Tem certeza que me ama? disse a
Sereia.
- Certeza não tenho, disse Jack o Marujo. Só uma espécie de tempestade que não passa nunca.
- Certeza não tenho, disse Jack o Marujo. Só uma espécie de tempestade que não passa nunca.
- Cedo demais para pensar bobagem,
disse ela.
- É o melhor momento, disse ele. Depois as bobagens nos impedem de pensar.
- É o melhor momento, disse ele. Depois as bobagens nos impedem de pensar.
- Linda, disse ele.
- Não sou, disse ela.
- Que bom. Meus olhos odeiam concorrência
- Não sou, disse ela.
- Que bom. Meus olhos odeiam concorrência