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10 de maio de 2014

ENREDO



Nei Duclós

Sou o que sou. Falta me acostumar.

Acordo contigo enredada em mim.

Meu verso faz parte de ti, mas com outra identidade. Se adapta tanto que nem o reconheço.

Abandonaste o namoro como quem pega um táxi no meio do filme. Quando saí só no final da sessão estava chovendo.

Troque as palavras pelos gestos, pomar de polens.

Combinamos um passeio, mas era fantasia. Nela navegamos para aportar no sonho.

Evitamos a flor para atender compromissos, mas elas se acumulam, rosas em fila

Disse isso em vidas passadas. Repito porque procuro o eco de tuas lágrimas.

Era uma estrela o que tinhas de canteiro. Era uma gruta de sereno, um ninho de sementes, onde depositei meu olhar pleno de ti, flor do maior encanto.

Avançamos o expediente com versos. Assim não sobra nada para depois. O que faremos em silêncio?

Cabe tudo na palavra, menos o tamanho do sentimento. Extrapolo o verso ao te querer.

Soprei enquanto estavas completa. Depois vi cada pluma tua dominar meu verso.

Você inteira em minha pele, flor.


PURA CORAGEM

Tão próxima que deixa de ser sonho. Tão real que o frio nos abandona

Te vejo mínima em tua faina que é pura coragem. Detalhes de beleza que ninguém nota. Mas eu fotografo tua grandeza.

Escrevo para ti, mas não conto para ninguém. Fica parecendo palavras ao vento. Mas é para a brisa que bate de leve em teu encanto.

Tão linda quando conversa. Demais quando silencia. Por que me deixas tonto, carrossel de açúcar?

É perigoso sonhar. Perdi a noção do perigo

Amanhecer sonoro numa trilha. Teu sorriso impregna o céu sem nuvens. Cabelo solto, de alegria.

Estiveste ao meu redor enquanto eu me distraía. Fico na memória de uma tarde terna. Quem de devolve aquele dia?

Quero enxergar pelos teus olhos. Abra o que tenho de cortinas, veludo branco.

Só vês a beleza. Projetas o que tens de sonho. Me atinges, flor absurda de tão doce.

É abominável tua sinceridade. Poderias mentir que um dia conversaremos

Não te revelas, aquarela. Pinta-se de verde para imitar a natureza. Mas és indústria de perdição suprema.

Não vivo no lugar onde moro. Moro no lugar onde vives.

Não encontrei nada que preste entre as sílabas amontoadas. Elas não formam palavras que te toquem.


ELA, ELE

- Perdi a memória, disse ele.
- Você me ama, disse ela.

- Não falamos mais a mesma língua, disse ele.
- Desde que adotaste o javanês, disse ela.

Tens medo de ser minha? disse ele.
- Não, tenho medo de não ser tua, disse ela.
- Ninguém é de ninguém, disse o outro.
- Cale-se! gritou o casal.