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14 de março de 2014

BARRO



Nei Duclós

O que é a nacionalidade
uma identidade, um nome, uma raça?
ou são as palavras que se transformam
em carne, no mesmo corpo
solidário, amargo?

Uma bandeira serve de moldura
ou é a própria essência do quadro?
Duas, quatro cores, um sinal, um sol
uma lua. A faixa cruzada na esfera
o que é um pano sem tambores?

Será a memória, funeral da linhagem
papéis de letra morta, aula de História
cálices, cristais, móveis. Uma cidade
que não te reconhece, o tempo sóbrio
sob lençóis em casas demolidas?

Qual nação pertence ao teu exílio:
o que encontras depois da dor
ou o que nasce, árvore torta repartida
em galhos de solidão?  Compartilhas
já o infinito ou adias, em doses?

O que é o berço, ninho no penhasco
de onde te atiras, infância sem perdão
uma linguagem, um peso pluma, as vozes
de uma liturgia muda? Ou tua cama,
farol de ti, ilha cercada de paixão?

Vi nascer a cena no palco, personagem
sem roteiro, de ponto soprado
a recitar para o vazio. A costura vinha
de algo fora de mim, teu olhar, som
de um pêndulo posto sobre o teto

O que é um país senão a mesa posta
servida com o amor que se esvaiu
a família dos gestos impuros, a humana
biografia sobre ruínas e teu pulso
de veias e sangue, cria da divindade



RETORNO - Imagem desta edição obra de Sir Francis Bernard Dicksee.