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5 de janeiro de 2014

LEQUE



Nei Duclós

Não resisto e me copio. Gosto do que escrevi antes de perder o rumo.

Pus as fantasias em leque para escolher uma. Descobri que nada tenho, flor de cacto.

Não sou invasivo, apenas te cerco. Quando menos esperas, estou dentro.

Uma hora a gente se enxerga, num aperto sem trégua.

Oculta nas plantas, olhas pelo poema, flor estranha.

Guardamos segredo, cheios de não sei o quê, talvez de vergonha da alegria.

Falamos de manhã, quando, sem noção, batemos asas.

O melhor da praia é a lisura da tua pele, ainda intacta de tão madura.

Finja que somos estranhos. Assim mantemos a vibração do primeiro encontro.

Tudo resolvido. Eu mostro minha queda, você aceita o pedido.

Apaixonada assim à toa. Por um verso apenas, incerto e solto. Escorregas fácil no confronto. Ou então tens a manha e eu tropeço.

Distribuir poesia é treinamento. Para um dia dividirmos o alimento.

Cansou de mim, apressada. Sou um verão que acaba cedo.

Não encontramos o caminho de volta. Tudo se fecha, como por milagre. Procuramos abrigo no inverno precoce.

Não vou deixar pistas da minha passagem. Fiquei invisível para que não finjas ignorar-me. Quando acordares, serei vento na tarde.

No teu caminho abre-se toda a diversidade do sonho, andarilha.

Fuja, fuja. O final da fuga é o seu início. Entregue-se, artista.

Palavra é divertimento. Jogue de volta por cima da rede.

Rima fácil está proibida. Esforce-se, querida.

Amor, só depois da chuva. Agora sue a dúvida de atirar-se na canícula do teu sonho.

Menos, agora. Prepare-se. O ano promete muitos dias de desmoralização dos sentimentos. Gele até a pose máxima da competência.

Não desistes, flor na inundação dos meus dias. Viajas até chegar ao porto supremo do amor correspondido.

Moras onde não te toco. No precário equilíbrio de uma sintonia. De onde jorra a fantasia em longa queda, como dos penhascos se joga a água em queda livre.

Te perco todos os dias, amor que nunca me deixa.


MAIS JACK E A SEREIA

- Como notas que eu choro, se estou cercada de água? disse a Sereia.
- O sentimento não se mistura, disse Jack o Marujo.

- Canto por códigos, truncando as sílabas, disse a Sereia.
- Adivinho o sentido imaginando teu beijo, disse Jack o Marujo.


- Abandonei as escamas, agora sou planta, disse a Sereia.
- Me enlaças de qualquer jeito, disse Jack o Marujo.

- Sou a Mergulhadora, disse a Sereia.
- Adivinho pelo teu canto submerso, disse Jack o Marujo. Sei onde ficas na maré.

- Só queres saber do mar, disse a Sereia.
- Mar é amor, onde moras, disse Jack o Marujo.