Nei Duclós
Não lavo as mãos do poema
não perco sua voz solene
não lhe meço em trocadilho
não desvisto seus extremos
Não lhe peço que se esfume
nem perca seu ar de estátua
sua natureza de berço
seu impacto de borrasca
a nudez do perfil épico
o mico de ser convicto
e pregar moral na praça
galope de heroico brado
trote de amor suave
mão aberta em vida escassa
alerta quando tudo dorme
A nada ao verso lhe nego
seu ímpeto de cavalgada
seu ríspido bater de asas
seus navios em plena carga
baterias de revoltas
discurso de nova obra
Em tudo vejo o poema
na sua grandeza e forma
de aparência obsoleta
de conteúdos passados
retreta em dia de glória
desfile em tempo de pátria
Eis o poema, rebento
da vocação sem amarra
vínculo de ferimentos
porção de porta estandarte
ruído de trem de carga
O coração da palavra
sua arma mais contundente
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Eliane Fogel.