Nei Duclós
Então é isso, é para morrer
que nascemos?
Para que ganhamos vida?
Para perdê-la?
Quando um pedaço de nós
se desprende
é um alívio? o que é um sinal
do destino?
Por que então parece interminável
a tarde em que espero a diligência
água dos cavalos, bandos à espreita
a chuva encruada no deserto
Vida é o que lembro, ao morrer
esqueço. Venha,
coragem sem conserto
Armo o esquema da partida
reparto o sol que ganhei cedo
Talvez viver seja só o poema
e mais nada
chegamos ao fim da estrofe
ou do soneto
uma oração então nos encomenda
Depois, é o vento
Deus que sopra sua tormenta
nos leva para o alto
alma suspensa
travessia misteriosa
de Caronte
Voltaremos, em forma de palhas
de um celeiro
esporos esparsos, flor provisória
algo que em tudo
se concentre
Caderno de anotações
de algum bêbado
que grava o delírio
para depois do porre
Desafio para o cérebro:
desaparecer com tanta força
RETORNO - Imagem desta edição: Serra dos Órgãos.