Nei Duclós
Dizes trêmula o que queres firme.
Custo a acordar o que faz sentido. Talvez seja o frio,
talvez não exista.
Fugiste, mas os versos te alcançaram.
Sumiste, como um tuit antigo.
Definiste o fim pela milésima vez.
Como se fosse possível transformar a curva da terra em linha reta.
Sentes alívio em partir para outros
rumos. Mas o pombo correio sabe o caminho e a mensagem sempre chega ao destino.
Em todo lugar será sempre teu
coração voltado para o mar
Chegamos ao limite. Não há como voltar às distâncias. Cruze
o perigoso horizonte
Moro no fundo do mar, disse a
sereia. Mas só contigo me falta ar.
Serás sempre menor do que me reduzes.
Não faça poesia hoje, disse a
tempestade. Tenha medo do amor que parte.
No fim, era você quem revistava as
gavetas, enquanto eu olhava para onde apontavas o dedo.
Reportei o hábito de invadirem
canteiros. É o mesmo perfil que se encanta com flores alheias, sem saber que
elas murcham longe da terra.
Leia ocultando a caneta. Depois me
diga, com tua própria pena.
Esse rumo me pertence. Levei a vida
a escrevê-lo.
Não precisa ser amor. Basta misturar
as águas.
Não domino a mensagem. Sou dial de
rádios em quartos anônimos, conversas entre anjos com ruído de ondas curtas.
O que entendemos impressiona.
Raridade na era do ruído anônimo.
Jogo limpo para não fingires
inocência, insumo para cobranças. Enxergas até o fundo porque sou vitrine. Não
diga depois que não foi assim.
Tiro da imaginação o que parece ser lição
de vida É apenas ficção, flor da campina
Solidão é uma vingança involuntária.
Pune o adeus pondo os joelhos no milho.
Perdes tempo com o amor, essa palavra. Cuide de si, princesa
bárbara.
Estavas ocupada em tuas trilhas. Nem
percebeste o assobio do pássaro, domínio de um canto raro.
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Robert Finale.