Nei Duclós
Quando vento, empurro tuas velas
para o meu porto.
Milhões de plumas flutuam diante dos
meus olhos. Mas só as tuas brilham, susto de tormenta.
Esqueceste de apagar teu rastro.
Descobri tudo quando acordei.
Ficas com todos os versos. E me
jogas pela janela.
Submerso, em pânico te enxergo.
Estás pronta para subir à superfície.
É intransponível a montanha do nosso
convívio. Não chegas no outro lado para ficar livre. Perdes o fôlego na subida,
pálida passarinha.
Tua doçura me impede de te chamar de
bandida. Mas merecia.
Deus te inventou para o tormento. É
o preço que pago por um dia seres para mim tanto.
Jogas comigo inutilmente. Sabe que
sou criatura das cavernas e não cedo à mestra de marionetes. Mas se diverte se
equilibrando no arame vestida só com tua graça.
Ser tão bela contrai dívidas. Pague
em beijos.
Basta você surgir para eu rolar no
abismo.
Você pousou por um segundo. E sumiu
no mesmo instante para evitar o que o teu coração já decidiu.
Volta, nem que seja para dizer bom
dia.
Pouse, nem que seja quando imagino.
Goste de mim, disse ela. Já falei
que gosto, disse ele. Não precisa falar, disse ela.
Verso de amor, quando o amor acaba,
é vidro vazio sem transparência. Sufoca toda luz que tinha dentro.
Mil poemas não são suficientes. Faça
então um arabesco.
Sou suspeito. Sempre falo em código
aberto. Jamais te surpreendo. Repito o que me faz humano.
O caminho fica escasso e acabará em
neblina. Chovo para que fiques comigo.
Hoje não faço mais versos. Aprendi a
solfejar estrelas.
Escrevo para que me esqueças. Um dia
lembrarás, açucena.
Desenho a letra no joelho. Recitas
quando te dou colo.
Você deu um tempo. Depois pegou de
volta.
Ninguém te entende, amor
intraduzível.
Ficamos esperando um sinal de
mudanças e só ouvimos o gargalhar digital dos relógios.
Deixaste o poema de lado. Quando
partiste, ele levantou e seguiu teu ônibus, latindo.
DANÇAR É DEUS
Estrela de dia passeia com sol a
pino. É uma boemia pelo avesso.
Adicionei você ao meu círculo. Agora
roda.
Quando disserem que você deve estar
louco, peça para mandar por email.
As redes sociais só pegam peixes
pequenos
As bobagens não fazem bem aos
currículos. Mas por motivos misteriosos costumam fazer parte deles
Sou o meu próprio irmão, disse o
filho único.
Melhor esquecer o que você acaba de
lembrar. Não tem importância mesmo.
Na outra encarnação fomos água.
As bobagens eram muito apreciadas na
Idade do Bronze. Serviam para temperar metais ferruginosos em altas
temperaturas.
Amamos porque não temos mais nada
importante para fazer.
Se você ainda não dormiu, é porque
está acordado.
Pronto, o mundo parou. Agora desce.
Marte não tem plantas porque lá não
tem Terra
Madrugada é quando a Lua se esconde,
mergulhada em lagoa.
Quando aqui é meia noite na China é
1,99.
RETORNO - Imagem desta edição: obra de Degas.