Nei Duclós
Tardei porque viajei em vales de
neblina. Lá encontrei o lenço que enxuga teus olhos, desespero de esperas.
Noto que me parto quando fico longe.
Mas ao mesmo tempo me liberto. Volto fazendo falta, flor pendente no penhasco.
Tão próxima que deixa de ser sonho.
Tão real que o frio nos abandona
Você inteira em minha pele, flor.
Economizei o dia para te dizer eu te
amo na hora do crepúsculo.
Perdi teu número entre os cadernos.
Assim mesmo ligo. Atendes do inverno.
Troco todas as palavras por duas
mãos que se unem com suor e coração aos pulos. Esse curto circuito de espantos.
O que fazes do amor, arte que se
aperta? Jogas ao céu, andorinha sem asas?
Sei que
não há saudade, apenas um roçar de pernas sobre o nosso banco. Eu escuto a mil
quilômetros, duquesa sonâmbula.
Curei-me da tua distância. Lavei-me
em estradas de mel.
Estive fora. Fui visitar o nascer do
sol. Bola de luz avermelhando o mar. Meu olhar passageiro fisgou-a por trás da
cidade dispersa entre prédios lavados de sal.
Te peguei de surpresa. Nem tiveste
tempo de fingir que não.
É um abraço guardado na gaveta da
memória, que não existiu, mas poderia ter sido. Longo e, parece, eterno, pois
sempre volta nas horas mais impróprias.
Você tão pensativa, pulsa o coração
onde não deveria.
O dia foi salvo pela tua alegria.
Palavras comuns, como doçura e delícia, ocupam o lugar que nos pluga.
Melhorei. Mas o inverno estava pior
Pensei, pensei. Aí dormi. Quando
acordei, os pensamentos estavam rolando pela calçada, perseguidos por cachorros
sem dono.
Tentei sair do amor, como se sai de um calabouço. Mas o que
está fora é a verdadeira prisão e de lá te enxergo quando te lanças sobre o
abismo
Te levei para um trem cruzando o
deserto. De lá vimos a Lua pipocar no horizonte
Chamo de amor o que vês distraída.
Não notas o calor que sobe das enchentes internas.
Soprei
enquanto estavas completa. Depois vi cada pluma tua dominar meu verso.
Puxei teu coração até a borda. Ele
ainda respirava.