Nei Duclós
Sou do tempo em que os colégios públicos eram modelos de
ensino.
Sou do tempo em que brincar era só no recreio e não em sala
de aula no tal aprendizado "lúdico". O ensino era sério.
Sou do tempo em que existia avaliação semanal com posição na
classe conforme o número de pontos e notas de comportamento e aplicação.
Sou do tempo em que o professor dizia "de pé quem está
conversando" e os conversadores ficavam de pé até o professor mandar
sentar de novo.
Sou do tempo do exame oral e de provas decisivas em onze
matérias. Reprovava em uma, repetia de ano. Duas reprovações era expulso do
colégio
Sou do tempo em que meu pai dormia na calçada no verão e as
pessoas passavam e cumprimentavam.
Sou do tempo em que tinha mata mosquito uniformizado e
fiscal sanitário com ficha colada na porta da nossa casa onde punha a data da
visita.
Sou do tempo em que existia guarda noturno. Eles apitavam.
Tudo isso foi destruído a partir de 1964, um sucateamento
consolidado na fase atual da ditadura.
Sou do tempo da sulfa, do cataplasma e da vacina
antipiogênica.
Sou do tempo em que não dávamos um tempo, porque o tempo era
todo nosso.
RETORNO - Imagem desta edição: Vintage Pictures of Doctors at Work