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21 de maio de 2013

GRITO TARDIO



Nei Duclós

Antecipei a viagem por isso não escutei teu grito tardio de socorro

Fui teu herói por algum tempo. Mas aí venceu o prazo da locadora e tiveste que me devolver

Entendi que nosso amor foi treino para brilhares em outro campeonato.

Fui catar palavras no jardim. Só achei flor. Ela tinha nascido nos rastros da tua visita.

Já tinha dispensado a solidão. Mas precisei readmiti-la, depois que o amor ficou demissionário.

O domingo é inútil se não abres os olhos do que tens mais doce. Esse singelo despertar
entre lírios

Te namorei em sonho a noite toda. Te levei, noiva, carreguei para longe, li teus versos, louca, cheirei teu ombro depois voltei a te esperar sem trégua.

Amor, não esqueça.

Esqueci um verso no bolso. Achaste quando tua mão procurou fugir do frio. Era um poema de amor.

Longe da terra, perdemos o vinculo com a palavra. Nosso vocabulário encolhe, artificial, virtual. As plantas, nuvens, pássaros ficam sem forças para transmitir sangue ao verso. Tornam-se memória de um planeta distante, o tempo que sumiu.

Feminina. Lâmina com endereço. Rasgo rente à fundura. Rapto com açúcar.

Despertas comigo fazendo o café do poema. Pão quente ainda de sono, entusiasmo de menino. Só com a palavra já ficas bala. Imagina se eu te der uma flor.

Acordar com teu calor. Por baixo da roupa é verão.



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Jack Vetriano.