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12 de maio de 2013

BRAZILIAN WRITERS



Nei Duclós

Nós, escritores brasileiros, usamos uma linguagem própria, que desenvolvemos nas nossas selvas. Escrevemos batendo com as mãos no peito. Isso nos inviabiliza para os romances, muito intensos. Tem alguns que conseguem, mas acabam morrendo devido aos hematomas.

Nossa vocação são os poemas. Os de amor batemos no peito das gurias. Quando elas são enormes. As pequenas só passamos a mão.

Mas literatura não dá dinheiro, por isso nos dedicamos aos discursos corporativos e políticos. Os executivos preferem escritoras pois assim podem se manifestar socando a tarde toda com o risco de serem correspondidos.

Os políticos, ao falar para multidões, precisam substituir as batidas no peito por tiros para serem melhor entendidos. Nós, os escritores brasileiros, abastecemos as cartucheiras.

Há problemas quando escrevemos para a linguagem dos surdo mudos. Fica parecendo suicídio. Já na linguagem dos cegos acabamos sempre machucando a ponta dos dedos com o alfabeto Braille.

A dramaturgia é a arte mais propícia para nosso ofício, principalmente depois dos movimentos de vanguarda, quando os palcos viraram arena de luta livre e números de circo.

Nosso ícone literário é o King Kong, o macaco hollywoodiano que se manifesta da mesma forma. Achamos até que o gorilão era um escritor brasileiro que migrou para vencer na América e acabou sendo aproveitando no cinema.

Eu escrevo sempre de manhã, pois à noite incomoda os vizinhos. Não passo de meia hora diária, que é minha cota permitida pela bronquite crônica.

Nos encontros literários, vira bagunça. Todos querem defender suas ideias sobre a literatura brasileira enquanto expressão da nacionalidade e o resultado costuma ser trágico, com algumas chacinas no meio.

Lamentamos que nossa originalidade não permita que participemos de eventos internacionais de literatura. Quando querem homenagear o Brasil, enviam algumas jaulas para que possamos nos manifestar dentro delas sem machucar os visitantes.

Por ser intraduzível, ficamos confinados ao nosso autismo cultural. Prêmio Nobel nem pensar. O conjunto de qualquer obra de escritor brasileiro é a celebração do sopapo.

 
RETORNO - Imagem desta edição: Fay Wray, em cena de King Kong de 1933.