Nei Duclós
Quando moço, Jack o Marujo naufragou e ficou confinado dez anos numa ilha deserta.
Ao voltar não reconheceu ninguém. Minha alma mudou, disse ele.
Sozinho na ilha, Jack o Marujo aprendeu a sobrevivência com
os bichos e alfabetizou-se na língua dos peixes. Foi assim que pôde depois
conquistar a Sereia.
Que língua fala a Sereia, de que país? Não entendo nada,
disse o Imediato. A língua do amor, respondeu Jack o Marujo. O coração é a sua
pátria.
Náufrago na ilha, Jack o Marujo cultivou o silêncio, irmão
do horizonte. Venha almoçar, dizia a Sereia. Não pergunte mais o motivo da
solidão.
Foram os corsários que capturaram Jack o Marujo na ilha
deserta. Mostraram respeito, mesmo ele
estando aos trapos. Seja nosso capitão, diziam.
Com apenas uma calça e uma camisa surradas, Jack o Marujo,
moço, desembarcou na sua aldeia depois do naufrágio. Sua mãe já não dispunha de
lágrimas.
Ele voltou! gritavam nas ruas. Nosso marinheiro voltou! No
meio do alarido das crianças, todas as mulheres desmaiaram.
Jack o Marujo só voltou ao mar como capitão. Tinha um
pequeno grupo. Somos poucos, dizia. Mas, por mais vasto, o oceano é apenas um.
Na primeira viagem como capitão, Jack o Marujo, de rosto
vincado pela longa espera na ilha, foi recebido em todos os portos com honras
de chefe do estado.
Quero que seja Cavaleiro do Mar, disse o Imperador. Cavalgo
o sem fim servido apenas pelo sentimento de honra, disse Jack o Marujo,
aceitando o convite.
A primeira batalha de Jack o Marujo foi contra a invencível
armada. Homens, disse. Vamos vencer
porque o Destino está no nosso convés.
A primeira vez que Jack o Marujo viu a Sereia foi quando
descansava numa rocha vulcânica isolada no alto mar. Venha morrer, disse ela.
Foi amor à primeira vista
A Sereia serviu-se do marinheiro porque seu coração lhe foi
oferecido. Leve-me embora, disse Jack o Marujo. Não me pertenço mais.
Cumpra sua rota, capitão, disse a Sereia. Que eu jamais o
abandonarei.
Estas são algumas histórias de Jack o Marujo, um homem
honrado.