Nei Duclós
Uma pedra no vitral
do poema
cada estilhaço deixa
de ser sílaba
é um verso completo,
independente sítio
fora da lata do lixo,
ocupa ranhuras no piso,
fio de corte no pé
distraído
Mulher descalça cruza
o vestíbulo
um vento vem do
bosque, transparência
promovida pelo
estilingue
friagem na reposição
de poesia
que o impacto
inaugura à luz oblíqua
Crio futuros com a
luz refletida
em cacos dispostos no
chão duro
Recito o que
desvirtua nessa obra
dobrada sobre si, o
encanto de narciso
imã de noites não
dormidas
Por isso me atiro na
parede lisa
comunhão invasiva que
vibra
em teus inúmeros
vestidos
Quebro a cortina,
cubro o corpo
com ruídos na noite
de vime
RETORNO – Imagem desta edição: obra de Van Gogh.