Nei Duclós
Vendo documentário
sobre os conceitos de espaço na Física, me dei conta tardiamente que o filme de
Stanley Kubrick, 2001, a Space Odissey não é sobre o espaço sideral, mas sobre
o conceito de espaço, que deixou de ser passivo segundo a percepção newtoniana
e tornou-se vivo e criador, a partir da mecânica quântica e do relativismo de
Einstein. Deixou de ser um palco vazio onde as coisas acontecem para adquirir
inúmeras propriedades, como curvar-se, virar onda e até gerar coisas
espontaneamente por meio da aglomeração de partículas, se é que eu entendi o
documentário direito.
O filme aborda a
lenta ocupação humana de infinitos vazios, o universo. As naves, confinamentos
espaciais em movimento, se aproximam de espaços artificiais, as estações
orbitais, e naturais, os astros. Mostra como a humanidade dispõe desses novos
ambientes de maneira criativa, ao romper com a gravidade e expandindo-se ,
adquirindo novos hábitos, como na célebre sequência do homem correndo numa
esteira circular.
A abordagem inclusive
serve para a milionésima teoria sobre o monolito. De formato retangular, o
objeto que subitamente aparece emitindo um silvo é a representação do espaço
confinado, sinal de uma civilização. Pois a civilização é conseguir criar
limites ou usar as propriedades do espaço a seu favor, opondo-se assim à
diversidade do cosmo, à hegemonia da imprevisibilidade de que tanto fala a
mecânica quântica.
Ao romper todos os
diques espaciais, quando ultrapassa a barreia do sistema solar, o astronauta
vê-se de volta ao início, representado por uma cena do passado, clássica,
véspera do surgimento de um cyberbaby, semente da nova humanidade.
O filme de Kubrick se
presta a um infinito exercício de especulação.
RETORNO – Imagem desta edição: cena do filme 2001, A Space
Odissey.