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26 de março de 2013

FUGA NO LEVANTE



Nei Duclós

Sou o selvagem descoberto no deserto. Vestia peles, comia insetos. Líder do resgate, me levaste para o acampamento. Lá me lavaste com água de cântaros serenos.

Fugi na hora do levante. Nadei em rios sem batismo. Me recolheste náufrago num filete de sereno que molhava o dorso da tua paisagem.

Cansei de me perder. Aceitei teu convite para ficar. Podes me visitar sempre que a estrela dalva der o sinal.

Onde estavas quando participei da colheita? Dona de terras, nem prestaste atenção nas flores que amassei em tua homenagem.

Entrei no piso de mármore dos poderes para pregar a fuga.Não se escandalizaram com minha aparência de peregrino. Mas acharam repugnantes as palavras que eu tinha para Dizer.

Inventei parábolas quando havia fome. O povo dormia sonhando com sementes. Acordavam sedentos de um amor que ameaçava as pedras.

Levei meu povo para o deserto. Chegamos ao destino depois de 40 anos. Tínhamos as marcas de um compromisso em nossos corações exaustos.

Éramos uma nação sem território. As nuvens então vieram em nosso socorro.


RETORNO – Imagem desta edição: cena de The Searchers, de John Ford.