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31 de março de 2013

DESPERDÍCIO



Nei Duclós

És a letra onde encontro a melodia. Somos uma canção inesquecível.

Acertaste uma única profecia: a de que não te esqueceria, fosse qual fosse o tempo, em qualquer momento deste desperdício.

Chuva miúda sem fôlego. O clima da meia estação não se define. É como tu, flutuante musa.

Pensar em ti me excita. Quando te escuto, então, nem digo.

Tua poesia é como a Lua, admirada por quem não sabe que és minha.

Vives das palavras que te dei, geradas pelo amor sem freio. Hoje me parecem traições, mesmo tendo o teu brilho.

Tens outra vida, a que me exclui. Trazes dela alguns perfumes, de flores em fuga.

Ressuscito em ti aos domingos, quando te deixas abater por um pé de vento.

Falas por charadas, pitonisa. Não te decifro, por mais que estude os astros.

Fingi que dormia quando te foste. Imaginava que irias até a porta de saída para voltar correndo. Mas sumiste, assombro do meu sono.

Perdi a razão na briga. Não quero achá-la, perdão de delícia.

Profecia é a pressa que o próprio tempo tem de acontecer.

É o destino, eu disse, para convencê-la. Posso mudá-lo, disse ela, indiferente.

- Com tanto sucesso entre as mulheres, como você trabalho o assédio? perguntaram para a celebridade.
- Não trabalho, disse o superstar.
- Por que? Te apaixonaste? perguntou o repórter.
- Por uma idiota! gritou o mais querido.


 RETORNO - Imagem desgta edição: Elizabeth Banks no filme 72 Horas, de Paul Haggis, 2010.