Nei Duclós
Revi no canal TCM um filme que tinha assistido na sessão das quatro do
velho Corbacho, em Uruguaiana. É de 1960, com Burt Lancaster e Audrey
Hepburn. A história é de Alan Le May, o mesmo de The Searchers,
que foi filmado por John Ford.
Nesta obra, onde a mão pesada e genial
de John Huston se impõe em cada segundo de cinema, garota índia é
sequestrada e criada por brancos. Quando ela cresce a tribo (os
malvadíssimos kaiowas!) quer resgatá-la e diante da negativa há uma
guerra.
O de sempre em filmes genocidas (índio morrendo sem
parar), mas o que vale aqui é o drama, a tragédia grega do amor
incestuoso entre Burt e Audrey, que matam em cena. Não há carga maior de
erotismo e lances de romantismo rasgado e reprimido do que nestas cenas
em que o casal se retorce diante do sentimento e da tesão.
Um assombro.
E viamos isso nos domingos à tarde. Por isso saíamos com os olhos
esbugalhados do cinema.
No fundo as duas histórias de Alan Le
May são idênticas. Em The Searchers, são os índios que sequestram a
garota branca e obrigam o tio a buscá-la por anos. Em The Unforgiven,
são os brancos que sequestram a garota india e obrigam o irmão adotivo a
defendê-la a qualquer custo.
Em ambas as histórias, a menina é criada
numa etnia que não é a sua e toda a tragédia gira em torno dessa
diferença. E há o link poderoso entre o veterano e a jovem, nos dois
roteiros.