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31 de janeiro de 2013

HEGEMONIA



Nei Duclós



Deixo que se exibam, tomem conta
do palco improvisado pelas ruas
nas telas, bares, teatros de consumo
a cansarem de tanto ser o máximo

Brilhos físicos, fingindo pouca idade
charme falso em carros prateados
falas viris, altas posições de mando
e o trotar em cavalos milionários

Deixo que passem com a hegemonia
que o tempo empresta à vaidade
sobrevivi, e esse é o meu segredo

Bebo com gosto a água que me cabe
jarro até a borda, vinho feito em casa
sonho tua dança, prazer de tempestade


RETORNO - Imagem desta edição: Rita Hayworth, foto de George Hurrel.

FORTUNA



Nei Duclós

Nada fizemos uma vida inteira
só repassamos a tocha acesa
redundância para quem se perde
(os próximos desta maratona)

Mas é outra a visão de quem chega
nos celebram por grandes coisas
homenagens em função da chuva
rasgada em passageiras nuvens

Obra é a vida mesma, diz a Fortuna
deusa indiferente de suas benesses
que traça o destino em risco incerto

Corredores de círculos concêntricos
reencarnamos nos séculos seguintes
para retomar do zero, nossa origem

30 de janeiro de 2013

AGENDA PARA UMA VIDA LONGA



Nei Duclós

Ser fiel aos hábitos alimentares da infância (equilibrio entre proteína e carbohidrato)

Não esperar reconhecimento

Não acreditar em boas intenções

Não se incomodar com nada

Deixar rolar

Focar no que sabe fazer melhor

Querer só quem te quer

Não se escravizar

Não aderir a movimentos

Viver dentro da lei

Sonhar boas histórias

Tratar bem quem for gentil contigo

Perdoar que passa

Fazer o bem sem fazer alarde.

Evitar compromissos e quando são inevitáveis cumpri-los integralmente

Manter o sangue frio na hora do perigo

Não se envolver em escândalos

Não se viciar em nenhuma droga proibida ou que deveria ser proibida

Escrever cedo as memórias para se livrar delas

Não se submeter a excessos físicos ou psicológicos

Não virar madrugada

Não participar de grupos de Terceira Idade

Não pintar o cabelo

Não se achar gostoso(a)

Não transformar as virtudes num fardo

Não catequizar ninguém

Não achar que tem sabedoria por ter vivido muito


RETORNO - Imagem desta edição: Sharon Stone

28 de janeiro de 2013

GRÃOS



Nei Duclós

Viver dá trabalho. Vou terceirizar. Ame por mim.

Somos areia que o tempo, vento, dispersa. Às vezes nos reunimos em grãos para ver se brotam.

Me trouxeste o amor na bandeja. Sinta, me disseste.

Sou porco espinho, talento. Esqueça quando arranho, pois me arrependo.

É incurável, não passa. Debaixo de mil camadas da mesma cicatriz.

Não adianta tentar. Voltamos sempre ao mesmo ponto. Lá onde o coração pulsa de verdade, morada do espanto.

Me deixas só contando estrelas. Depois não venha dizer que foi tudo bem, aos prantos.

Puxei tuas pernas no calorão da tarde. O vestido de seda subiu até a cintura. Vi tudo, o caldeirão do teu rosto gritando palavrões com um jeito doce. Mas eu era apenas uma assombração, flor da minha querência.

Estamos perto. Ceda aquele abraço para dar certo.

Passei por ti mas não me viste. Devias ter olhado para cima. Eu estava levitando.
 
Improvisei depois de tanto treino. Preferiste assim, quando joguei fora o discurso. Quiseste a gagueira em vez do arroubo.

Estava frio no deserto. Fazia calor no inverno. Era o amor, trocando as pernas.

Não tens vergonha? disse o catedrático. Prefiro o amor da leitura ao desamor da análise, disse a autoria.

Crisálida tardia, adiaste o voo porque tinhas esperança de me ver chegando. Só eu poderia te libertar com um toque.

Dê lembranças à felicidade, que levas contigo. Diga que estou com saudade. (este verso , como todos os outros dete post, também é meu, foi tuitado por mim, @neiduclos, no dia 23 de janeiro. alguém colocou no facebook dia 26 sem dar o crédito e negando minha autoria)



RETORNO – Imagem desta edição: Jane Russell.