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20 de dezembro de 2012

ORQUÍDEA



Nei Duclós

Estás por toda parte, como a Lua nas poças deixadas pela chuva na madrugada.

Te arranquei com raiz e tudo, orquídea do bosque. Te levei para viagem, de contrabando.

Quando coincidiu a sintonia em seus detalhes íntimos, houve um suspiro da Lua.

Fui correndo saber o que era. Me mostraste a pele, alérgica à minha ausência.

A noite é uma concha onde só cabem eu e tu.

Nada importa. Defines teu alvo dando de ombros. E ai de quem não entenda.

É bonita ponto. E tem um gás que só vendo. Ouço daqui o chiado espantoso.

Passei mais de uma vez em frente à tua janela. Fingiste mexer nas cortinas, rabo de olho.

Perdeu no bosque um fiapo de lã que se desprendeu da roupa. Foi a pista para te encontrar numa clareira. Estavas desfiada, só de sapatinho vermelho.

Lábio inferior capturado pelo decidido gesto do amante, de boca sedenta mas prudente, para não assustar a presa. Há um bater de asas internas sobre águas ardentes.

Dúzias de você brotaram no jardim. Colho uma por uma, olhando no olho.

A beleza é o começo do dia.

Mesmo quando vais embora por algumas horas me habitas com o vai e vem da tua saia.

Até quando ficarás fazendo isso? ela perguntou. Até o amor te convencer, ele disse.


RETORNO – Imagem desta edição:  Ingrid Bergman.