Nei Duclós
Estás por toda parte, como a Lua nas
poças deixadas pela chuva na madrugada.
Te arranquei com raiz e tudo,
orquídea do bosque. Te levei para viagem, de contrabando.
Quando coincidiu a sintonia em seus
detalhes íntimos, houve um suspiro da Lua.
Fui correndo saber o que era. Me
mostraste a pele, alérgica à minha ausência.
A noite é uma concha onde só cabem
eu e tu.
Nada importa. Defines teu alvo dando
de ombros. E ai de quem não entenda.
É bonita ponto. E tem um gás que só
vendo. Ouço daqui o chiado espantoso.
Passei mais de uma vez em frente à
tua janela. Fingiste mexer nas cortinas, rabo de olho.
Perdeu no bosque um fiapo de lã que
se desprendeu da roupa. Foi a pista para te encontrar numa clareira. Estavas
desfiada, só de sapatinho vermelho.
Lábio inferior capturado pelo
decidido gesto do amante, de boca sedenta mas prudente, para não assustar a
presa. Há um bater de asas internas sobre águas ardentes.
Dúzias de você brotaram no jardim.
Colho uma por uma, olhando no olho.
A beleza é o começo do dia.
Mesmo quando vais embora por algumas
horas me habitas com o vai e vem da tua saia.
Até quando ficarás fazendo isso? ela
perguntou. Até o amor te convencer, ele disse.
RETORNO – Imagem desta edição: Ingrid Bergman.