Nei Duclós
Fui teu, mas veio o dia seguinte.
Quero que repitas o que nunca
disseste.
O que sobrou do nosso amor ninguém
recolhe. Some de vista, como as estrelas de neón. Depois reaparece, roxa
paixão.
Vieste de navio, pela praia sem
cais. Eu estava a bordo do barco mais rude. Te atiraste do convés, passageira
de açúcar.
Não te localizei no imenso jardim
das minhas palavras. Estavas distraída com as anêmonas mais tristes.
O que vai em mim não transparece.
Sou o que falta no final da espera.
Joguei os dados até desistir. Já
tinhas partido.
Eu não tenho outro amor. Tenho o
mesmo.
O amor deixou rastros mas esperamos
vir a tempestade. As dunas mudaram de lugar e nada aponta para o Norte.
Gostas da solidão? Preferes assim,
flor do verão.
Não sinto ciúme de ti, só o amor que
não permitiste vingar.
Não sei o que fazer quando enfim te
vejo. Por onde começar, latifúndio de desejos.
Voltaste a ti, depois de me deixar.
Deves estar feliz, livre do amor que ficou na chuva.
Te levei para a varanda de um remoto
endereço. Te segurei pelo beijo para que a Lua não te absorvesse.
Escolhi as palavras na vitrine dos
teus gestos. Cada curva do enredo virou verbo ardente.
Esqueces de mim até o verso
seguinte. É quando o som profundo do teu lago retorna à superfície.
Fui-me de ti, coração de vime.
Ringes em meus ventos mais fundos.
Consegui dizer tudo. Agora escuto,
para que digas por mim, som da doçura.
RETORNO – Imagem desta edição: Paulette Godard.