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22 de dezembro de 2012

O DIA SEGUINTE



Nei Duclós


Fui teu, mas veio o dia seguinte.

Quero que repitas o que nunca disseste.

O que sobrou do nosso amor ninguém recolhe. Some de vista, como as estrelas de neón. Depois reaparece, roxa paixão.

Vieste de navio, pela praia sem cais. Eu estava a bordo do barco mais rude. Te atiraste do convés, passageira de açúcar.

Não te localizei no imenso jardim das minhas palavras. Estavas distraída com as anêmonas mais tristes.

O que vai em mim não transparece. Sou o que falta no final da espera.

Joguei os dados até desistir. Já tinhas partido.

Eu não tenho outro amor. Tenho o mesmo.

O amor deixou rastros mas esperamos vir a tempestade. As dunas mudaram de lugar e nada aponta para o Norte.

Gostas da solidão? Preferes assim, flor do verão.

Não sinto ciúme de ti, só o amor que não permitiste vingar.

Não sei o que fazer quando enfim te vejo. Por onde começar, latifúndio de desejos.

Voltaste a ti, depois de me deixar. Deves estar feliz, livre do amor que ficou na chuva.

Te levei para a varanda de um remoto endereço. Te segurei pelo beijo para que a Lua não te absorvesse.

Escolhi as palavras na vitrine dos teus gestos. Cada curva do enredo virou verbo ardente.

Esqueces de mim até o verso seguinte. É quando o som profundo do teu lago retorna à superfície.

Fui-me de ti, coração de vime. Ringes em meus ventos mais fundos.

Consegui dizer tudo. Agora escuto, para que digas por mim, som da doçura.


RETORNO – Imagem desta edição:  Paulette Godard.